Coordenação: Flavia Trocoli

Hélène Cixous: sobreviver ao pé da letra

No ano de 2020, o Grupo de Estudos “A autobiografia depois de Freud” propõe-se a ler Hyperrêve, 2006, de Hélène Cixous; nele, aquela que escreve se desloca entre muitos tempos. Pode-se pensar que um tempo a situa entre a morte recente de seu amigo J.D. e a iminente morte de Ève, a mãe, que sofre de uma doença rara de pele. “Isso sobre o teu corpo é a letra/carta”. Um segundo tempo diria respeito à rotina de ungir a pele doente da mãe; precisamente no dia 15 de julho, a mãe lhe conta uma história passada em 1938, quando compra um sommier de um intelectual alemão muito bem educado chamado Benjamin. Essa narrativa, contada no dia do aniversário de Derrida e de Benjamin, faz com que a narradora retorne à correspondência de Benjamin, ao discurso proferido por Derrida no recebimento do prêmio Adorno e às conversas que tiveram em torno do tempo e da morte e, também, a Proust. O sonho e a literatura dão permissão tanto para fazer existir o que não existe, quanto para hospedar o retorno dos mortos e, assim, sonho e literatura, se submetem e dão forma às leis desconhecidas da vida: continuar a viver, é continuar a perder, diz em forma de coro o próprio livro. Mas também é incontornavelmente continuar a sonhar e a escrever. Pensaremos, então, como essa sobreposição de cenas – literárias, filosóficas e autobiográficas – está intimamente ligada à noção de uma sobrevida que se faz através da extração da letra e da reconstituição, sempre parcial, daquilo que foi destruído. No belo ensaio intitulado “Polyphonie polyphênix”, Camille Laurens destaca que, na obra de Cixous, sonho e literatura são lugares em que o fim ainda não teve fim e que essa sobrevivência à morte se faz através de cortes e recombinações, por exemplo: em “Néant”, “nada”, pode-se escutar “Né en”, “nascido em”; ou, a “cinza”, “cendre”, pode ser transformada em “nid de cendre”, “ninho de cinza”.

Bibliografia:

CIXOUS, Hélène. Hyperrêve. Paris: Galilée, 2006.

SEGARRA, Marta (org). Hélène Cixous. Corolllaires d’une écriture. Paris: Presses Universitaires de Vincennes, 2019.

Os encontros do primeiro semestre acontecerão de 10h30 às 12h, nos dias: 3 de abril, 8 de maio, 5 de junho, 3 de julho.

Os interessados deverão entrar em contato através do email: flavia.trocoli@gmail.com