Este artigo foi publicado na forma impressa na revista do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Lisboa: Análise Social, n° 151-152, vol. XXXIV, Inverno 2000, pp. 619-637. Originalmente, ele resultou de uma comunicação apresentada no Seminário de Mestrado em História e Teoria das Ideias da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa, feita em 1998 a convite de João Luís Lisboa, a quem aproveito para agradecer.
Doutorando na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris. Bolseiro do Programa Operacional "Ciência, Tecnologia, Inovação" do 3° Quadro Comunitário de Apoio, administrado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (Portugal).
Este é o número que consta do "Mapa da Despesa que se fazia anualmente com a impressão da Gazeta e Suplemento; como também os lucros que destes exemplares se percebiam sendo administrador José Roiz Rolles desde o ano de 1740 até 1748", Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora (BPADE), CXXVIII/2-16, f. 58-58a.
Trata-se da obra Parenésis, um folheto de Francisco de Pina e Melo anunciado na Gazeta n°48 de 1755.
Numa contabilidade feita a partir dos títulos das obras, pude identificar, para 1756, 12 anúncios de pequenos livros e folhetos tendo por objecto o 1° de Novembro de 1755 ou os terramotos em geral. Ao longo desse ano a Gazeta anunciou 33 títulos de novas obras impressas .
É bastante provável que a própria oficina em que a Gazeta era impressa tenha sido arrasada pelo terramoto. Segundo o que se pode inferir dos anúncios publicados no periódico, ela transferira-se nesse ano para a Rua Nova dos Ferros, situada no coração da baixa da cidade, a zona mais afectada pelo sismo. A Gazeta continuou a ser publicada, embora provavelmente com perturbações. Para as últimas oito semanas de 1755, só são conhecidos quatro números. Neles publicam-se sucessivos avisos informando os leitores da continuação da publicação regular da Gazeta e das novas localizações dos seus pontos de venda.
Ver André Belo, As gazetas e os livros. A Gazeta de Lisboa e a vulgarização do impresso (1715-1760), Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2001; mais recentemente, João Luís Lisboa, Mots (dits) écrits. Formes et valeurs de la diffusion des idées au 18ème siècle au Portugal, Tese de Doutoramento apresentada no Instituto Universitário Europeu, Florença, 1998.
Seguem-se aqui sobretudo os trabalhos sobre jornalismo de Antigo Regime feitos em França, nomeadamente na Universidade de Lyon II, cujo Centro de Estudos sobre o Século XVIII publicou vários volumes sobre a imprensa periódica no século XVIII. Sobre as Gazetas europeias e francesas ver Henri Duranton, Claude Labrosse e Pierre Rétat (eds.), Les Gazettes Européennes de langue française (XVIIe-XVIIIe siècles), Table Ronde Internationale Saint-Étienne, 21-23 mai 1992, Saint-Étienne, Publications de l'Université de Saint-Étienne, 1993. Ver, por último, as comunicações apresentadas num colóquio internacional realizado em Lyon em Junho de 1997: Henri Duranton e Pierre Rétat (eds.), Gazettes et information politique sous l'Ancien Régime, Centre d'Etudes du XVIIIe siècle, Publications de l'Université de Saint-Étienne, 1999.
Citado por A. L. de Zuazo Algar, "La prensa periódica" em Hipólito Escolar (dir.), Historia ilustrada del libro español, Madrid, Ed. Pirámide, 1994, p. 378.
Catálogo dos livros que se vendem em casa de Manuel da Conceição mercador de livros e morador na rua direita do Loureto. Este catálogo impresso está inserido no volume de 1752-1753 da grande colecção de folhetos intitulada Provas e Supplemento á Historia Annual Chronologica, e politica do mundo e principalmente da Europa; nas quaes se faz memoria mais exacta dos nascimentos, despozorios, e falecimentos das pessoas mais consideraveis pela sua qualidade, ou empregos; encontros, sitios de praças, e batalhas terrestres, e navaes, tratados de allianças, tregoas e paz; com acções Militares, Civis, e sucessos mais dignos da attençaõ, e curiozidade, que comprehende desde o anno de 1619 até o de 1780. As Provas... conservam-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), S.P. 2596-2634 e o volume em que se encontra este catálogo tem o n° 2619.
Refiro-me aqui à série quase completa da Gazeta que se conserva na Biblioteca Nacional de Lisboa com a cota J. 2510 M (entre os números em falta estão precisamente alguns imediatamente posteriores ao terramoto; a série completa de 1755 pode ser vista no arquivo da Academia das Ciências de Lisboa). Nesta série, o volume relativo a 1717, quando a Gazeta era impressa por Pascoal da Silva, tem uma folha de rosto impressa na oficina de Luís José Correia de Lemos, que foi o impressor a partir de finais de 1741.
O título completo era: Historia Annual Chronologica, e politica do Mundo, e especialmente da Europa onde se faz memoria dos nascimentos, despozorios, e morte de todos os Emperadores, Reys, Principes, e pessoas consideraveis pela sua qualidade, ou empregos; encontros, sitios de Praças, e Batalhas terrestres, e navaes; vistas, e jornadas de Principes, Tratados de Aliança, Tregoa e Paz, com todas as mais acçoens militares, & civis, negociaçoens politicas, & sucessos mais dignos da attençaõ, & curiosidade.
Diogo Barbosa Machado, "José Freire de Montarroio Mascarenhas", Bibliotheca Lusitana, Historica, Critica e Chronologica , Col. "Ophir-Biblioteca Virtual dos Descobrimentos Portugueses" (2), Lisboa, edição em CD-ROM da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998, vol. 2 [1. ed. Lisboa, 1747], p. 854.
Veja-se uma lista das inúmeras obras que Montarroio escreveu e traduziu em Inocêncio Francisco da Silva, "José Freire de Montarroio Mascarenhas", Diccionario Bibliographico Portuguez: estudos applicaveis a Portugal e ao Brasil, Lisboa, Imprensa Nacional, vol. IV, 1860, pp. 343-353..
A palavra journaliste nasce em França na segunda metade do século XVII. Ela aparece associada, com conotação pejorativa, aos autores de periódicos literários. O Vocabulario Portuguez e Latino (1712-1720), do Padre Rafael Bluteau, não refere a palavra jornalista - nem jornal, com a acepção que aqui nos interessa. O autor da Gazeta é também chamado na época de "gazeteiro" ou "gazateiro".
Assim é caracterizada a redacção da Gazeta na petição que Montarroio fez ao Paço para obter o privilégio de impressão do periódico, que lhe foi concedido em 1752. Cf. a transcrição da decisão régia, publicada na Gazeta de Lisboa, nº 22, 1752.
Dois exemplos diferentes desta ordenação, escolhidos ao acaso: Turquia, Íngria, Polónia, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Espanha, Portugal (GL, n°3, 1725); Holanda, Grã Bretanha, França, Portugal (GL, n° 18, 1759)
Deste ponto de vista, a Gazeta inicia em 1715 um registo de informação que se torna útil para os historiadores do seu tempo e que passa a ser tido em conta. Ele pode ir sendo completado no presente e acrescentado para um tempo anterior à existência de gazetas. Segundo Barbosa Machado, por exemplo, Alexandre Caetano Gomes escreveu uma (manuscrita) Colecção dos sucessos da guerra e paz do presente século até o tempo que teve princípio neste Reino o uso das Gazetas. Diogo Barbosa Machado, Ob. cit., vol. 4 [1759], p. 8.
Prefácio à Relation des nouvelles du monde, Março de 1632, citado por Claude Labrosse e Pierre Rétat, "Le texte de la Gazette" em Henri Duranton, Claude Labrosse e Pierre Rétat (eds.), Les Gazettes Européennes de langue française , Ob. Cit., pp. 139-140.
Os critérios aqui enumerados, como é evidente, não têm fronteiras estanques entre si e a sua hierarquização relativa não é linear. Para uma discussão mais completa desta questão, incluindo a necessária distinção entre o estatuto dos manuscritos e dos impressos, veja-se João Luís Lisboa, Ob. cit., esp. pp. 460-468.
Cf. Claude Labrosse e Pierre Rétat, "Le texte de la gazette",
Art. cit., p. 140.
A este propósito, veja-se o que Voltaire diz sobre as gazetas na Encyclopédie
de Diderot e D'Alembert: "Quoiqu'elles [les gazettes] soient souvent remplies
de fausses nouvelles, elles peuvent cependant fournir de bons matériaux
pour l'Histoire; parce que d'ordinaire les erreurs d'une gazette sont rectifiées
par les suivantes, & qu'on y trouve presque toutes les pièces autentiques
que les souverains mêmes y font insérer" (Diderot e D'Alembert,
Encyclopédie ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts
et des métiers, par une Sociéte de Gens de Lettres, Stuttgart,
Bad Connstatt, Fr. Fromman Verlag - G. Holzboog, vol. 7, 1995 [edição
fac-similada da 1. edição de 1751-1780], p. 534.
Isto mesmo afirma Hans-Jürgen Lüsebrink sobre o tratamento noticioso
feito ao terramoto de Lisboa nos periódicos de língua francesa:
a sua dimensão trágica e traumática é reduzida,
reduzindo-se o discurso das gazetas a um relato factual do sismo e das suas
repercussões políticas e diplomáticas. Cf. "Le tremblement
de terre de Lisbonne dans les périodiques français et allemands
du XVIIIe siècle" em Henri Duranton e Pierre Rétat (eds.),
Gazettes et information politique
, Ob. cit., p. 308.
GL, 1743, nº 1 (subl. meu).
GL, 1743, nº 1 (subl. meu).
Cf. Jean Sgard, "La multiplication des périodiques" em Roger Chartier e Henri-Jean Martin (dirs.), Histoire de l'Edition Française. II - Le livre triomphant, 1660-1830, Paris, Fayard-Cercle de la Libraire, 1990 [1984], p. 246.
Notícias publicadas na Gazette, n° 7 e n° 9 de 1725, respectivamente.
As gazetas impressas terão surgido como título e género noticioso específico primeiro na Alemanha (c. 1600), depois na Holanda (1618), Inglaterra (1622), França (1631), Espanha e Portugal (1641), Polónia (1661) e Rússia (1702). Cf. Jeremy D. Popkin, "L'histoire de la presse ancienne: bilan et perspectives" em Henri Duranton, Claude Labrosse e Pierre Rétat (eds.), Ob. cit., p. 300.
ANTT, Chancelaria de D. João V, livro 43, f. 219v.
Cf. Hans-Jürgen Lüsebrink, Art. cit., p. 305.
Cf. Pierre Rétat, "Politique et administration"" em Henri Duranton e Pierre Rétat (eds.), Gazettes et information politique , Ob. cit., p. 270.
Jürgen Habermas, L'espace public [trad. francesa de Strukturwandel der Öffentlichkeit, 1962] Paris, Payot, 1986, p. 32.
BPADE, CVIII/1-4, f. 7 (carta de 25-2-1741) e f. 174-174v (carta de 14-3-1745), respectivamente.
É o que diz Jean Sgard sobre a Gazette francesa, mas a ideia é também válida para Portugal e para a Espanha. Cf. "La multiplication des périodiques", Art. cit., p. 247.
Embora o seu interesse fosse descrever a formação do espaço público contemporâneo, as breves páginas de Habermas sobre os periódicos do género da Gazeta descrevem com muito rigor a sua dependência da correspondência e da informação manuscrita (Ob. cit, pp. 31-32).
A principal série conhecida destes periódicos é a que foi redigida pelo Padre Luís Montez Matoso e por Rodrigo Xavier Pereira de Faria. O seu título foi variando (Folheto de Lisboa, Mercúrio de Lisboa, Mercúrio Histórico de Lisboa) e os volumes anuais tiveram, a partir de 1740, o nome de Anno Noticioso e Historico. Outra dos títulos conhecidos para este período chama-se, significativamente, Adições à Gazeta. Sobre este assunto, ver João Luís Lisboa, Ob. Cit., pp. 377-406, em que os periódicos manuscritos são vistos como estando integrados em "redes de conversação".
Citado por Joaquim Veríssimo Serrão em A Historiografia portuguesa. Doutrina e crítica. Vol. III. séc. XVIII, Lisboa, Verbo, 1974, p. 298
Sobre este movimento, a que chamei de "vulgarização da Gazeta", ver André Belo, Ob. Cit., pp. 52-64.
Pierre Nora, "O regresso do acontecimento" em Fazer História: 1. Novos problemas, Bertrand Editora, 2. edição, 1987 [1974], pp. 243-262.