Excertos:
Às mães, que do coração professam a religião da adorável inocência e até
por instinto sabem que em cérebros tão tenros e mimosos todo o cansaço e
violência pode deixar vestígios indeléveis, oferecemos neste sistema profundamente
prático o meio de evitar a seus filhos o flagelo da cartilha tradicional
. (...) Em vez do principiante apurar a paciência numa repetição banal, se familiariza com as letras e os seus valores na leitura animada de palavras inteligíveis. Assim ficamos livres do silabário, em cuja interminável série de combinações mecânicas não há de penetrar uma idéia! Esses longos exercícios de pura intuição visual constituem uma violência, uma amputação moral contrária à natureza. Seis meses, um ano e mais de vozes sem sentido basta para imprimir num espírito nascente o selo do idiotismo. Só a palavra escrita tem o selo da imortalidade. O homem destinado a viver no grêmio desta imensa família, cujo pai é Deus, precisa de levantar o seu coração e o seu espírito de hemisfério a hemisfério, e de século a século. Só a palavra escrita resolve o problema de nosso alto destino. Aquele que apenas fala com os que o ouvem, e para quem o mundo acaba no vale que habita, não é um cidadão, porque desconhece os negócios da Pátria; é um selvagem (...) Não queremos dizer que em tal ou qual lugar, onde reine sem contradição aquela variante [µ por ou] o professor se empenhe em arrancar a seus discípulos talvez um hábito invencível. A toada é singularmente ingrata a ouvidos estranhos e ilegítima; porém não é essencial que os filhos do povo falem classicamente; o essencial é fazê-los quebrar o círculo da animalidade e dar-lhes, por meio da leitura e da escrita, o horizonte infinito do homem ( Deus, João de. Cartilha maternal, ou Arte de leitura. Publicada pelo seu amigo Cândido J. A. de Madureira, Abade de Arcozelo. Porto: Livraria Universal de Magalhães & Moniz, 1876) |
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