INTRADUÇÃO

 

 

Neste momento, fazer uma mostra de livros e revistas com textos de Jacques Derrida em português e do material publicado na imprensa brasileira durante as duas visitas que fez ao Brasil, em 1995 e 2001, é fundamental para fortalecer, ainda mais, a disseminação da sua escritura em português que começa a ter um papel decisivo para as desconstruções no Brasil.

No nosso país, além das questões de tradução dessa escritura, a maneira como ela está sendo editada é muito especial. Mais recentemente, e com maior evidência a partir dos anos 90, cada vez mais seus textos são traduzidos, mas as publicações aqui se dão de maneira bastante diferente das publicações em francês. Quanto mais se traduz, mais se está lendo Derrida: no Brasil é visível o aumento de suas traduções nos últimos anos . A tradução da sua escritura exige uma postura política que tem implicações com as práticas e políticas acadêmicas, à medida que, ao traduzi-lo, o que está em questão não é somente a fidelidade, mas, sobretudo, a responsabilidade do tradutor.

Segundo Derrida, é com os tradutores de todos os países que ele trabalha melhor, já que tradutores e tradutoras exercem um papel fundamental para as desconstruções. Questionado sobre a tradução dos seus textos, Derrida comenta que “os textos traduzidos nunca dizem as mesmas coisas que os textos originais, sempre ocorre algo de novo; o paradoxo da tradução é o fato de que um texto traduzido chega a outra coisa, mas outra coisa que está em relação consigo mesma”. Traduzir não seria dar nossa língua, nosso idioma, o que não nos pertence, ao outro? Como é possível, então, traduzir Derrida a partir de Derrida?  Com esta mostra, podemos constatar que, cada vez mais, Derrida fala nossa língua e nosso idioma.

Esta exposição faz parte do projeto TRADUZIR DERRIDA - Políticas e Desconstruções. A postura teórica subjacente a todo este projeto é a da impossibilidade de estabelecer uma fronteira entre tradução e desconstrução (no plural), o que nos coloca (entre uma prática política e uma concepção de linguagem) a responsabilidade de traduzir o in-traduzível.

  

Paulo Ottoni

junho de 2003

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