Com profunda tristeza, os membros do projeto Traduzir Derrida – Políticas e Desconstruções registram o falecimento do Professor Jacques Derrida no último dia 9 de outubro, num hospital de Paris.

Ninguém melhor que ele - um sobrevivente a tantos amigos mortos: Roland Barthes, Paul de Man, Michel Foucault, Louis Althusser, Edmond Jabès, Gilles Deleuze, Emmanuel Lévinas, Jean-François Lyotard, Maurice Blanchot - soube traduzir o que representa a perda de um grande pensador, de um amigo. Um amigo que nasce, não tanto da convivência próxima, mas antes, do partilhar com ele, até mesmo graças a ele, da urgência em repensar um diálogo sem concessões com a metafísica ocidental. Num questionamento incessante dos conceitos tradicionais da filosofia que não deixa intactos nenhum dos espaços instituídos de pensamento, seja da literatura, da psicanálise, das artes plásticas, do direito e antes de qualquer outro, da universidade, para relançá-los, corajosamente, ainda mais longe, às fronteiras da língua e da verdade.

Certamente, esse desaparecimento não deverá marcar o fim de uma trajetória, mas qualquer coisa mais próxima de um começo. Um novo desafio que seria mais que nunca proposto por sua herança, e quiçá pelo próprio Derrida, cuja vida foi a mais intensa expressão da subversão. Entre todos nós, que lemos e traduzimos Derrida, “uma ligação infinita de sofrimento e esperança” deverá nortear o funcionamento aporético de uma “fidelidade infiel”.

Ser fiel a Derrida, hoje, no momento de sua morte, deve ser inventar uma outra maneira de seguir suas pegadas, de inventar novos caminhos. Por outros meios levar adiante o que assumimos como tarefa. É assim que o projeto TRADUZIR DERRIDA - POLÍTICAS E DESCONSTRUÇÕES  reafirma seu objetivo principal: resistir na discussão e na tradução de sua obra, pois quea questão da desconstrução é também do começo ao fim [de um lado a outro] a questão da tradução”.

Responsabilidade confiada e repleta de reconhecimento e de dívida, na tarefa de fazer dessa responsabilidade um caminho antes de tudo construtivo, para lançar ainda mais longe, a reflexão legítima, crucial, inevitável que ele inaugurou. Responsabilidade no entendimento de que “a herança não é jamais um dom, é sempre uma tarefa...”.

 

Campinas, 19 de outubro de 2004