Kaliban é um centro de pesquisa situado no Departamento de Teoria Literária da Unicamp, liderado pelos Professores Alfredo Cesar Melo e Elena Brugioni e que procura examinar as interseções entre estudos pós-coloniais e literatura mundial.
A parte dedicada aos Estudos Pós-Coloniais do Kaliban tem a urgente tarefa de contribuir para a provincianização dos estudos pós-coloniais, isto é, a tarefa de compreender as várias reflexões críticas sobre os efeitos do colonialismo, em suas diferentes configurações históricas e políticas, como um arquivo de saberes pós-coloniais (com potencial descolonizante), que deve estar à disposição de todos, sem modelos normativos centrados em países específicos a serem seguidos – o que inevitavelmente estabeleceria uma hierarquia entre experiências coloniais –, nem tampouco devemos estimular a reprodução da divisão internacional do conhecimento, na qual ao centro compete teorizar e à periferia cabe o papel de objeto a ser teorizado. É preciso encontrar uma tensão dialógica entre os diferentes modos de pensar o pós-colonial ao redor do globo, que são a um só tempo desiguais e combinados, diferentes e familiares, singulares e conectados. Só provincianizando esses saberes temos melhores condições de acolher os diversos gestos críticos pós-coloniais que tratam das experiências latino-americanas (incluindo a brasileira), africanas, árabes, caribenhas, sul-asiáticas.
Por sua vez, a parte dedicada aos estudos da Literatura Mundial do Kaliban também tem uma tarefa desafiadora no campo intelectual brasileiro: alargar a concepção de mundo numa tradição intelectual como a brasileira, na qual muitas vezes as cartografias literárias e epistemológicas ficam presas num confinado espaço entre o narcisismo nacionalista da tradição literária brasileira e o edipianismo eurocêntrico, repleto de um afetado cosmopolitismo, restrito aos países do Norte Atlântico, que a bem da verdade não se interessa pela diversidade do mundo.
De um modo mais amplo, podemos dizer que o Kaliban pretende ser um centro de pesquisas que tenha como pressuposto geopolítico um mundo mais vasto, cujos diferentes espaços não serão vistos como “áreas” a serem mapeadas por uma teoria central, mas como lugares de produção de conhecimento, reflexão e narrativas.