A dissertação de mestrado “Sobreviver e sonhar: histórias e memórias de mulheres em situação de rua”, de Ana Luiza Barretto Bittar, defendida no Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (IEL/UNICAMP), recebeu o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos UNICAMP-Instituto Vladimir Herzog 2020, na categoria Ciências da Comunicação e Linguagem. O prêmio propõe avaliar a produção de pesquisa em graduação, mestrado e doutorado das universidades estaduais paulistas, na interface com a reflexão sobre e a promoção dos Direitos Humanos.
A dissertação
A pesquisa de Ana Luiza pode ser compreendida como um gesto de escuta, o que inclui o ato de ouvir e também o de instigar a fala de um outro. No contexto da vivência nas ruas, nas cidades de Campinas e São Paulo, a pesquisadora buscou instigar a fala de mulheres sem teto e, desses contatos, observar as formas como elas próprias constituíram seus espaços memorativos e de projeção de futuro. As falas dessas mulheres sujeitos de pesquisa ganharam no trabalho analítico o tratamento de narrativas com dimensão autobiográfica: histórias de vida que contam e propiciam uma autorreflexão sobre percursos marcados por afetos e por estratégias de sobrevivências e possibilitam a fabulação de sonhos. A proposta geral da pesquisa está calcada na ideia de fundo de que garantias como o direito à personalidade e o direito à memória são centrais na construção da dignidade e da solidariedade, e suas realizações se fazem essencialmente por atos de linguagem.
A dissertação apresenta, em sua tessitura, os dados gerados por meio do trabalho de história oral e de algumas incursões etnográficas, muito bem articulados por meio do uso ferramentas conceituais para análise e interpretação oriundas dos estudos sobre narrativas biográficas, das teorias de memória e de gênero. Destacam-se, ainda, as importantes reflexões que organiza sobre questões metodológicas e éticas do trabalho de campo em contextos muito marcados por formas acentuadas de vulnerabilidade social.
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