“This thing of darkness, I acknowledge mine”. As palavras de Próspero, em A Tempestade, de William Shakespeare, nos convidam a pensar, através da literatura e da psicanálise, o que pode ser dito e o que foi silenciado em tempos atuais. A segregação, como efeito de afetos e ações políticas, constitui tema de interesse em diferentes campos de estudo, mas é por meio da palavra em porvir, evitando o emudecimento e a paralisia, que o Centro de Pesquisa Outrarte: psicanálise entre ciência e arte convida à reflexão – sob tempestade, qual palavra pode advir?

Passemos a palavra à literatura. Ao lado de Shakespeare, outros autores relançam o convite ao pensamento em torno das passagens entre palavra e segregação: do grito bárbaro à palavra civilizatória, da força bruta à escuta da palavra vulnerável, do isolamento suicida ao endereçamento ao outro. No ensaio seminal Beyond Oedipus, Shoshana Felman faz-nos pensar a palavra porvir a partir da estrutura de endereçamento. Destaquemos o que Teseu diz a Édipo: “não posso agora te virar as costas, negar ajuda a quem provém de alhures”. Em outro tempo, Franz Kafka também nos situa entre a segregação e a palavra por vir. Em Comunidade, somos colocados no cerne da exclusão e do retorno, cinco amigos não querem ser seis, um deles pergunta-se: “Mas como é possível tornar tudo isso claro ao sexto? Longas explicações significariam, em nosso círculo, quase uma acolhida, por isso preferimos não explicar nada e não o acolhemos. No entanto, por mais que o afastemos ele volta sempre”. Assim, passar do emudecimento ao diálogo implica, também, estar no ponto de deixar a palavra chegar.

Em outra volta, deixemos que a palavra – escrita ou falada – chegue à clínica, como o que insiste e volta ao mesmo lugar para se fazer diferença. E que uma orelha-tesoura a escute em recorte, fazendo do fragmento, resto; da palavra, significante, letra, traço. Ponto em que Lacan nos incita: “A clínica psicanalítica deve consistir não apenas em interrogar a análise, mas em interrogar os analistas, para que prestem contas do que sua prática tem de arriscado, o que justifica o fato de Freud ter existido”. Entre silêncio e palavra, do emudecimento ao diálogo, cabe considerar o que da palavra e da escuta se faz gesto, aposta e invenção.

 

Eixos temáticos

  1. Sob tempestade, literatura e outras artes
  2. Naufrágios, a psicanálise invoca a literatura
  3. Resistindo à tempestade, clínica, escrita e palavra por vir
  4. Segregação, silêncio e palavra