Línguas e Instrumentos Lingüísticos n° 3
APRESENTAÇÃO
UMA BALADA EM TOPONÍMIA: DA RUA
DESCARTES À RUA DOS RENNES
Bernard Bosredon
LINEARIZAÇÃO,
COGNIÇÃO E REFERÊNCIA: O DESAFIO DO HIPERTEXTO
Luíz Antonio Marcushi
DOBRAS INTERDISCURSIVAS E EFEITOS IMAGINÁRIOS:
A ILUSÃO DE SUBJETIVIDADE
Cármen Lúcia Hernandes Agustini
CRÔNICAS E CONTROVÉRSIAS
SOBRE A ORIGEM DAS FORMAS GRAMATICAIS E SOBRE SUA INFLUÊNCIA NO
DESENVOLVIMENTO DAS IDÉIAS
Wilhelm Von Humboldt
RESENHAS
AUROUX, S.; ORLANDI E. P.; MAZIERE, F. (ORGS.) - LANGAGES. L´HYPERLANGUE
BRÉSILIENE. PARIS, LAROUSSE, 130, JUNHO DE 1998.
José Luiz Fiorin
APRESENTAÇÃO
Este terceiro número de Línguas e Instrumentos Lingüísticos
traz na sua primeira parte: um texto de B. Bosredon sobre a questão
da designação dos nomes de rua na França, contribuindo
para a importante questão dos nomes próprios e a relação
da linguagem com o mundo, problema central da semântica; um segundo
texto, de Cármen Agustini, sobre um processo enunciativo próprio
da negociação da representação de unidade do
sujeito, através do que ela caracterizou como dobras interdiscursivas,
colocando em outros termos o que se tem tratado, em muitos casos, como a
parentetização; um terceiro de L. A. Marcuschi, que traz para
a reflexão, a partir de uma posição cognitivista, um
novo tipo de instrumentação da linguagem, com que todos lidamos,
próprio de nossa época informatizada: o hipertexto.
Na seção Crônicas e Controvérsias,
publica-se um texto extremamente significativo de Humboldt: "Sobre a origem
das formas gramaticais e sobre sua influência no desenvolvimento
das idéias", traduzido por Claudia C. Pfeiffer.
Esse ensaio de Humboldt traz à cena um momento
produtivo e polêmico na história das idéias lingüísticas
em que o idealismo filosófico alemão toma um espaço
de produção de conhecimento muito importante.
Wilhelm von Humboldt (1767-1835), filósofo,
nascido na Alemanha, viveu a virada do século XVIII fortemente marcado
pelo idealismo filosófico alemão. Analista de extrema perspicácia
e sutileza, contribuiu não somente com ensaios no campo da filosofia
da linguagem, mas também no campo da política e da educação,
sendo um dos fundadores e reitor da Universidade de Berlim, instituição
modelo no século XIX. Como um homem de seu tempo, suas obras lingüísticas
buscaram desde cedo demonstrar a relação existente entre
a estrutura de uma língua e a estrutura mental dos usuários
desta língua, tematizando como cultura e língua se refletem
um no outro. Seus escritos fundamentaram uma base forte para trabalhos como
os de Sapir-Worf se filiarem e se desenvolverem, mas neles podemos observar
ainda sentidos que não se fazem presentes nas formulações
dos que têm sido considerados seus sucessores.
Nessa linha argumentativa, esse ensaio de Humboldt
(escrito entre 1822 e 1823) defende que as "relações gramaticais"
não dependem das palavras em si mesmas, mas da intenção
que se deposita nelas; as relações são introduzidas pelo
pensamento daquele que escreve e daquele que fala. Desse modo, questão
central para o autor, o valor da língua não consiste em sua
capacidade expressiva (comunicativa), mas em sua capacidade operativa: suas
possibilidades de despertar idéias na nação à
qual pertence. Isto desloca a concepção língua-mundo.
Sua capacidade analítica volta-se, ainda, para o "mal-entendido" que
se estabelece ao se estudar uma língua desconhecida a partir de outra
língua conhecida (seja o latim, seja a língua materna). Mesmo
que esse mal-entendido seja visto de lugares epistemológicos diferentes,
não há como negarmos sua importância ontológica.
Resenhas, seção final da revista,
publica a análise de J. L. Fiorin sobre o número 130 de Langages,
de junho de 1998, dedicada ao estudo da história da produção
de conhecimento sobre o Português no Brasil, com textos de autores
brasileiros que vêm trabalhando sobre a História das Idéias
Lingüísticas no Brasil.
Ao chegar ao seu terceiro número, Línguas
e Instrumentos Lingüísticos espera estar cumprindo seu
projeto de abrigar a publicação de trabalhos de história
do conhecimento sobre a linguagem e de suas instrumentações,
bem como de reflexão teórica e de análise lingüística
que representem expressivamente a produção da área
dos estudos sobre a linguagem.
Os
Editores
UMA BALADA EM TOPONÍMIA: DA RUA DESCARTES À RUA DOS RENNES
Bernard Bosredon
Université Paris 3, I.
Tamba, EHESS
RESUMO: Nesta análise dos nomes de ruas e estradas de Paris, B.
Bosredon procura dar visibilidade aos princípios sintático-semânticos
que regulam a construção denominativa das vias de comunicação
rodoviária e urbana. Por essa análise enunciativa, o autor
conclui que a introdução de nomes r, de pessoa na nomenclatura
de ruas, que veio acompanhada da ausência de preposição
entre o termo categorial (p.ex. rua, avenida, etc.) e o nome I;é
próprio, corresponde a uma ausência de relação
entre os formantes dos nomes de rua. Dessa forma, passa-se de uma sinalética
semanticamente motivada por critérios topográficos para uma
combinação que o autor "qualifica como mais abstrata.
ABSTRA CT: In this analysis of the names of streets and roads in Paris,
B. Bosredon seeks to show the syntactic-semantic principies which regulare
the construction of the denomination of road and urban communications networks.
With the analysis of such denominating utterances, the author concludes
that the introduction of personal names in the nomenclature of streets,
which carne along with the absence of preposition between the categorial
term (e.g. street, avenue) and the proper name, corresponds to an absence
of relation between the constituents of the names of streets. Thus, Paris
has moved from a signalectics semantically motivated by topographical criteria
to a combination which the author qualifies as more abstract.
LINEARIZAÇÃO, COGNIÇÃO E REFERÊNCIA:
O DESAFIO DO HIPERTEXTO
Luíz Antonio Marcushi
Universidade
Federal de Pemambuco
RESUMO: Este ensaio investiga o evento textual-interativo hipertexto,
aqui tomado como ponto de apoio para uma revisão de noções
tais como linearização e referenciação. O hipertexto
não é um gênero textual nem um simples suporte de gêneros
diversos, mas como um tipo de escritura. É uma forma de organização
cognitiva e referencial cujos princípios constituem um conjunto
de possibilidades estruturais que caracterizam ações e decisões
cognitivas , baseadas em (séries de) referenciações
não-contínuas e não-progressivas. Considerando que
a linearidade lingüística sempre constituiu um princípio
.básico da teorização (formal ou funcional) da língua,
o hipertexto rompe : esse padrão em alguns níveis. Nele, não
se observa uma ordem de construção, .mas possibilidades de
construção textual plurinearizada. A questão é:
quais as demandas teóricas para a construção do hipertexto
e como ele vem servindo .1 aos propósitos do leitor-navegado!; particularmente
no ensino?
ABSTRACT: This essay investigates the textual-interactive event called
'hypertext', taken here as a basis for a review of notions such as those
of 'linearization' and 'referentiation '. The hypertext is neither a textual
genre nor a mere support for different genres, but a kind of writing. It
is a cognitive: and referential means of organization constitute a set
of structural possibilities which characterize cognitive actions and decisions
based on (series of) non-continuous and non-progressive referentiations.
If we take into account that linguistic linearity has always constituted
a basic principle of (formal or functional) theoreticalization upon language,
we realize that hipertext breaks this parttern at some levels. One does
not observe .in this kind of writing an order of construction, but possibilities
of, plurilinearized textual construction. The question is: which are the
theoretical, demands for the construction of hypertext and how has it been
serving the purposes of the reader-navigator particularly at school?
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