Línguas e Instrumentos Lingüísticos n° 11
APRESENTAÇÃO
Este número de Línguas e Instrumentos
Lingüísticos traz dois artigos diretamente relacionados à
história das idéias e um terceiro que faz uma análise
da designação de nomes a partir de uma posição
enunciativa.
"Definição lexicográfica e discurso",
de José Horta Nunes, organiza um conjunto de conceitos e procedimentos
pelos quais constrói um dispositivo para a análise da definição
lexicográfica. Tomando o dispositivo da análise de discurso,
o texto dá visibilidade aos deslocamentos que uma análise discursiva
realiza em relação à concepção lexicográfica
da definição.
Em "O Conceito de 'uso lingüístico' em
Quintiliano", Marcos Aurélio Pereira, ao analisar as considerações
de Quintiliano no capítulo VI do primeiro livro de sua Institutio
oratoria a respeito da língua a ser empregada pelo orador, procura
contextualizar apropriadamente o trabalho de Quintiliano, contrapô-lo
à moderna discussão sobre o tema da normatividade, bem como
investigar em que medida visões atuais desse tema são válidas
para uma interpretação daquele momento específico da
história do pensamento sobre a linguagem.
Taisir Mahmudo Karim, no terceiro texto, "Dois Nomes
Dois Destinos" analisa, de um ponto de vista enunciativo, as designações
de Israel e dos israelenses, de um lado, e da Palestina e dos palestinos,
de outro. Na relação entre essas designações
e os nomes dos territórios a que elas referem, o autor observa o funcionamento
da demarcação geográfica como um elemento de constituição
da cidadania de um povo, e a representação destes povos como
"outros".
Na seção Crônicas e Controvérsias
está um texto de Ana Cláudia Fernandes Ferreira que, do ponto
de vista de uma história das idéias e sua relação
com as Instituições, observa a questão da constituição
e desenvolvimento da semântica argumentativa através da análise
do fato de que a designação semântica argumentativa não
está presente no primeiro trabalho de Oswald Ducrot (1973) sobre
a argumentação na língua, bem como em vários
outros estudos produzidos por ele posteriormente. Podendo ela ser vista,
no entanto, desde o início, em textos de Carlos Vogt, sendo enunciada
diversas vezes já em sua tese de doutorado de 1974.
Na seção final, Resenhas, vem
uma apresentação de Institucionalização dos
estudos da linguagem: a disciplinarização das idéias
lingüísticas no Brasil, considerando sua relação
com a Nação, o Estado e as instituições ligadas
a esse domínio de conhecimento. A primeira parte da obra reflete
sobre a institucionalização da lingüística no
Brasil, tomando a obra de Mattoso Câmara como eixo, e a segunda traz
a história de certas instituições escolares importantes
bem como a análise do modo de presença na instituição
de certos domínios disciplinares (o ensino de francês e a retórica).
Os
Editores
DEFINIÇÃO LEXICOGRÁFICA E DISCURSO.
José Horta Nunes
Unesp
- São José do Rio Preto
RESUMO: Este artigo organiza um conjunto de conceitos e procedimentos
pelos quais constrói um dispositivo para a análise discursiva
da definição lexicográfica. Pela explicação
e a exemplificação da utilização do aparato da
AD neste tipo de análise, o texto dá visibilidade aos deslocamentos
que uma análise discursiva, a partir do dispositivo teórico
sustentado na relação língua sujeito-história,
realiza em relação à concepção lexicográfica
da definição.
ABSTRACT: This article organizes a ser of concepts and proceedings around
which it builds a device to the discursive analysis of lexicographical definition.
Through the explanation and exemplification of the use of the device of French
DA in this kind of analysis, it gives visibility to the changes that a discursive
analysis operates with its theoretical device founded upon the language-subject-history
relation as regards the lexicographical conception of definition.
O CONCEITO DE “USO LINGÜÍSTICO” EM QUINTILIANO.
Marcos Aurelio Pereira
DL
- IEL - Unicamp
RESUMO: No capítulo VI do primeiro livro de sua Institutio oratoria
("A educação oratória"), Quintiliano (Marcus Fabius
Quintilianus, ,ca. 30-96 d.C.) tece considerações a respeito
da língua a ser empregada pelo orador cuja formação propõe
no tratado - já definida, na realidade, bem antes da passagem em questão
- defendendo o que diríamos, hoje, não qualquer "variedade
lingüística", mas aquela empregada pelos poetas, oradores e historiadores,
cujos textos serviam, na escola do grammaticus e do rhetor, para o aprendizado
da língua "culta". Noutros termos, trata-se de empregar um determinado
"uso lingüístico" (consuetudo sermonis), estabelecido por aquilo
que o autor qualifica de "consenso dos instruídos" (consensus eruditorum)
e equipara ao "consenso dos bons" (consensus bonorum). Este trabalho procurará
discuti1; sumariamente, as possíveis implicações da
adoção de um "padrão lingüístico" num texto
em que se descreve, principalmente, o sistema da antiga ars rhetorica, tendo
em vista (a) contextualizar apropriadamente o trabalho de Quintiliano, (b)
contrapô-lo à moderna discussão sobre o tema da normatividade,
bem como (c) investigar em que medida visões atuais desse tema são
válidas para uma interpretação daquele momento específico
da história do pensamento sobre a linguagem.
ABSTRACT: In Chapter VI of the first book of his Institutio oratoria ("The
education 01 an orator"), Quintilian (Marcus Fabius Quinti1ianus, ca, 30-96
A.D.) makes observations on the language to be employed by the orator whose
education is proposed in his work, which had indeed already been defined.
The author defends something like what we would call today not any "linguistic
variety", but the one used by poets, orators and historians, who served,
in the ‘grammaticus’ and the rhetors school, for the purpose of learning "cultivated"
language. In other words, the orator should employ certain "linguistic usage”
identified with what Quintilian calls the “consensus of the cultived” (consensus
eruditorum), but also with the "consensus of the good" (consensus bonorum).
This text will a tempt to consider briefly some implications of the adoption
of a "linguistic pattern" in a text that serves mainly to describe the ancient
ars rhetorica, aiming at (a) situating properly Quintilian's work, (b) setting
it against the modem debate on the subject of normativism, as well as (c)
investigating how much the present debate is valid to refer to that specific
moment in the history of "linguistic" thought.
topo
DOIS NOMES
DOIS DESTINOS.
Taisir Mahmudo Karim
Unemat
RESUMO: Tomando como objeto a enunciação jornalística
sobre um dos conflitos mais importantes na história do Oriente Médio,
este artigo analisa, em perspectiva enunciativa, as designações
de Israel e dos israelenses, de um lado, e da Palestina e dos palestinos,
de outro, quando da comemoração do cinqüentenário
da criação do Estado de Israel, em 1998. Na relação
entre essas designações e os nomes dos territórios a
que elas referem, o autor observa o funcionamento da demarcação
geográfica como um elemento de constituição da cidadania
de um povo, a representação destes povos como 'outros', e o
deslizamento de mão única no uso de "Palestina" e "cidadãos
árabes" para referir a Israel e aos israelenses.
ABSTRACT: Taking as object a journalistic utterance on one of the most
important conflicts in the history of the Middle East, this article analyses,
from the perspective of enunciation, the designations of Israel and Israelis,
on the one hand, and of Palestine and Palestinians on the other hand by the
time of the celebration of the fiftieth anniversary of the creation of the
State of Israel, in 1998. In the relation between these designations and the
names of the territories to which they refer the author points out the functioning
of geographical demarcation as an element of constitution of one people's
citizenship, the representation of these peoples as 'others' and the one-way
gliding in the use of "Palestine" and "Arabian citizens" to refer to Israel
and Israelis.
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