Línguas e Instrumentos Lingüísticos n° 11

APRESENTAÇÃO

DEFINIÇÃO LEXICOGRÁFICA E DISCURSO.
José Horta Nunes

O CONCEITO DE “USO LINGÜÍSTICO” EM QUINTILIANO.
Marcos Aurelio Pereira

DOIS NOMES DOIS DESTINOS.

Taisir Mahmudo Karim

CRÔNICAS E CONTROVÉRSIAS
SEMÂNTICA ARGUMENTATIVA: A QUESTÃO DA AUTORIA PARA UMA DESIGNAÇÃO BRASILEIRA.
Ana Cláudia Fernandes Ferreira

RESENHA

ORLANDI, ENI P. E GUIMARÃES, E. (ORGS.)  INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM:  A DISCIPLINARIZAÇÃO DAS IDÉIAS LINGÜÍSTICAS.
Mariângela Peccioli Galli Joanilho





APRESENTAÇÃO

    Este número de Línguas e Instrumentos Lingüísticos traz dois artigos diretamente relacionados à história das idéias e um terceiro que faz uma análise da designação de nomes a partir de uma posição enunciativa.
    "Definição lexicográfica e discurso", de José Horta Nunes, organiza um conjunto de conceitos e procedimentos pelos quais constrói um dispositivo para a análise da definição lexicográfica. Tomando o dispositivo da análise de discurso, o texto dá visibilidade aos deslocamentos que uma análise discursiva realiza em relação à concepção lexicográfica da definição.
    Em "O Conceito de 'uso lingüístico' em Quintiliano", Marcos Aurélio Pereira, ao analisar as considerações de Quintiliano no capítulo VI do primeiro livro de sua Institutio oratoria a respeito da língua a ser empregada pelo orador, procura contextualizar apropriadamente o trabalho de Quintiliano, contrapô-lo à moderna discussão sobre o tema da normatividade, bem como investigar em que medida visões atuais desse tema são válidas para uma interpretação daquele momento específico da história do pensamento sobre a linguagem.
    Taisir Mahmudo Karim, no terceiro texto, "Dois Nomes Dois Destinos" analisa, de um ponto de vista enunciativo, as designações de Israel e dos israelenses, de um lado, e da Palestina e dos palestinos, de outro. Na relação entre essas designações e os nomes dos territórios a que elas referem, o autor observa o funcionamento da demarcação geográfica como um elemento de constituição da cidadania de um povo, e a representação destes povos como "outros".
    Na seção Crônicas e Controvérsias está um texto de Ana Cláudia Fernandes Ferreira que, do ponto de vista de uma história das idéias e sua relação com as Instituições, observa a questão da constituição e desenvolvimento da semântica argumentativa através da análise do fato de que a designação semântica argumentativa não está presente no primeiro trabalho de Oswald Ducrot (1973) sobre a argumentação na língua, bem como em vários outros estudos produzidos por ele posteriormente. Podendo ela ser vista, no entanto, desde o início, em textos de Carlos Vogt, sendo enunciada diversas vezes já em sua tese de doutorado de 1974.
    Na seção final, Resenhas, vem uma apresentação de Institucionalização dos estudos da linguagem: a disciplinarização das idéias lingüísticas no Brasil, considerando sua relação com a Nação, o Estado e as instituições ligadas a esse domínio de conhecimento. A primeira parte da obra reflete sobre a institucionalização da lingüística no Brasil, tomando a obra de Mattoso Câmara como eixo, e a segunda traz a história de certas instituições escolares importantes bem como a análise do modo de presença na instituição de certos domínios disciplinares (o ensino de francês e a retórica).
        
Os Editores



DEFINIÇÃO LEXICOGRÁFICA E DISCURSO.

José Horta Nunes

Unesp - São José do Rio Preto

RESUMO: Este artigo organiza um conjunto de conceitos e procedimentos pelos quais constrói um dispositivo para a análise discursiva da definição lexicográfica. Pela explicação e a exemplificação da utilização do aparato da AD neste tipo de análise, o texto dá visibilidade aos deslocamentos que uma análise discursiva, a partir do dispositivo teórico sustentado na relação língua sujeito-história, realiza em relação à concepção lexicográfica da definição.

ABSTRACT: This article organizes a ser of concepts and proceedings around which it builds a device to the discursive analysis of lexicographical definition. Through the explanation and exemplification of the use of the device of French DA in this kind of analysis, it gives visibility to the changes that a discursive analysis operates with its theoretical device founded upon the language-subject-history relation as regards the lexicographical conception of definition.



O CONCEITO DE “USO LINGÜÍSTICO” EM QUINTILIANO.

Marcos Aurelio Pereira
DL - IEL - Unicamp

RESUMO: No capítulo VI do primeiro livro de sua Institutio oratoria ("A educação oratória"), Quintiliano (Marcus Fabius Quintilianus, ,ca. 30-96 d.C.) tece considerações a respeito da língua a ser empregada pelo orador cuja formação propõe no tratado - já definida, na realidade, bem antes da passagem em questão - defendendo o que diríamos, hoje, não qualquer "variedade lingüística", mas aquela empregada pelos poetas, oradores e historiadores, cujos textos serviam, na escola do grammaticus e do rhetor, para o aprendizado da língua "culta". Noutros termos, trata-se de empregar um determinado "uso lingüístico" (consuetudo sermonis), estabelecido por aquilo que o autor qualifica de "consenso dos instruídos" (consensus eruditorum) e equipara ao "consenso dos bons" (consensus bonorum). Este trabalho procurará discuti1; sumariamente, as possíveis implicações da adoção de um "padrão lingüístico" num texto em que se descreve, principalmente, o sistema da antiga ars rhetorica, tendo em vista (a) contextualizar apropriadamente o trabalho de Quintiliano, (b) contrapô-lo à moderna discussão sobre o tema da normatividade, bem como (c) investigar em que medida visões atuais desse tema são válidas para uma interpretação daquele momento específico da história do pensamento sobre a linguagem.

ABSTRACT: In Chapter VI of the first book of his Institutio oratoria ("The education 01 an orator"), Quintilian (Marcus Fabius Quinti1ianus, ca, 30-96 A.D.) makes observations on the language to be employed by the orator whose education is proposed in his work, which had indeed already been defined. The author defends something like what we would call today not any "linguistic variety", but the one used by poets, orators and historians, who served, in the ‘grammaticus’ and the rhetors school, for the purpose of learning "cultivated" language. In other words, the orator should employ certain "linguistic usage” identified with what Quintilian calls the “consensus of the cultived” (consensus eruditorum), but also with the "consensus of the good" (consensus bonorum). This text will a tempt to consider briefly some implications of the adoption of a "linguistic pattern" in a text that serves mainly to describe the ancient ars rhetorica, aiming at (a) situating properly Quintilian's work, (b) setting it against the modem debate on the subject of normativism, as well as (c) investigating how much the present debate is valid to refer to that specific moment in the history of "linguistic" thought.

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DOIS NOMES DOIS DESTINOS.

Taisir Mahmudo Karim

Unemat

RESUMO: Tomando como objeto a enunciação jornalística sobre um dos conflitos mais importantes na história do Oriente Médio, este artigo analisa, em perspectiva enunciativa, as designações de Israel e dos israelenses, de um lado, e da Palestina e dos palestinos, de outro, quando da comemoração do cinqüentenário da criação do Estado de Israel, em 1998. Na relação entre essas designações e os nomes dos territórios a que elas referem, o autor observa o funcionamento da demarcação geográfica como um elemento de constituição da cidadania de um povo, a representação destes povos como 'outros', e o deslizamento de mão única no uso de "Palestina" e "cidadãos árabes" para referir a Israel e aos israelenses.

ABSTRACT: Taking as object a journalistic utterance on one of the most important conflicts in the history of the Middle East, this article analyses, from the perspective of enunciation, the designations of Israel and Israelis, on the one hand, and of Palestine and Palestinians on the other hand by the time of the celebration of the fiftieth anniversary of the creation of the State of Israel, in 1998. In the relation between these designations and the names of the territories to which they refer the author points out the functioning of geographical demarcation as an element of constitution of one people's citizenship, the representation of these peoples as 'others' and the one-way gliding in the use of "Palestine" and "Arabian citizens" to refer to Israel and Israelis.




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