Línguas e Instrumentos Lingüísticos n°
15
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO
No conjunto dos textos apresentados
neste número 15 de Línguas e Instrumentos Lingüísticos,
percorremos, por diferentes vias, temáticas relativas à nação
e à cidadania em sua relação com a linguagem.
"O pensamento etnicista na URSS
e na Rússia pós-soviética" examina o funcionamento
das teorias do etnos na União Soviética e na Rússia
pós-soviética na segunda metade do século XX. A análise
de Patrick Sériot mostra que este conceito deriva no determinismo
étnico na concepção das comunidades nacionais, por
meio do qual é interditado o direito de escolha pessoal.
Em "O Discurso sobre a língua no período
Vargas (Estado Novo - 1937/1945)", a temática da nacionalidade é
examinada em contexto brasileiro. Eni Orlandi analisa a política
lingüística efetivada sob o autoritarismo nacionalista do Estado
Novo através de um conjunto de decretos que determinam a adoção
da língua nacional nas mais diversas situações da vida
civil. A autora mostra que o controle exercido através dea língua
serve para regular o modo da presença estrangeira (imigrante, sobretudo)
no Brasil.
Em "Cidadania: o surgimento da palavra", Sheila
Elias de Oliveira analisa o modo como se deu, no início do século
XX, a derivação da palavra cidadania a partir do seu
étimo cidadão. A autora percorre um as mudanças
na designação de cidadão que deram origem à
cidadania, mudanças estas ligadas ao deslocamento
do Direito Romano para o Direito Burguês.
Em "Concepções de ensino de língua
escrita em curso de formação continuada", Maria Auxiliadora
Bezerra mostra que os conhecimentos experienciais da prática de
ensino, que envolvem estruturas formulacais de produção de
gêneros textuais, têm maior influência sobre a concepção
escrita do grupo de professoras por ela analisado do que o aporte
acadêmico que propõe um enfoque menos repetidor. Está
em questão, nesse caso, pela conformação do sujeito
de linguagem dada pela escola, a possibilidade ou não de formação
de um cidadão crítico.
A constituição da imagem de um ídolo
nacional é o objeto de "Ayrton Senna: a memória discursiva
da música Tema da vitória". Neuza Zattar analisa a
memória fundada na música Tema da vitória e
no enunciado "Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil", projetados para todo
o país nas transmissões de Fórmula I da Rede Globo,
antes e depois da morte de Ayrton Senna.
A seção Crônicas e Controvérsias
traz o artigo "O Seminário de Mariana: da preparação
de homens a serviço de Sua Majestade à semeadura de cidadãos
do céu". Isaías Pascoal e Maria Ruth de Carvalho rlatam a
história do seminário mais antigo de Minas Gerais (fundado
em 1750), no qual vário líderes religiosos e leigos se formaram.
Entre outros aspectos, os autores destacam o ideal de formação
de cidadãos líderes, que deveriam ser tementes a Deus e dedicados
ao cultivo das virtudes morais e cívicas necessárias à
consntrução da pátria.
O livro Colonização lingüística,
de Bethanioa Mariani, é resenhado por Marisa Grigoletto, segundo
a qual a obra "constitui uma contribuição fundamental para
a compreensão não apenas das relações entre língua,
colonização e constituição de identidades nacionais,
mas também, no cas específico da nossa história de
Brasil no tocantes à questão das línguas, dos efeitos
discursivos dos gestos dos colonizadores portugueses sobre nós e
sobre o dizível e o não-dizível da nossa concepção
de língua nacional (até) hoje."
Percorrendo, então, diversos
objetos de análise - linguagem teórica, jurídica,
lexicográfica, televisiva, falas institucionalizadas, documentos
institucionais, este número de Línguas e Instrumentos
Lingüísticos espera contribuir para a compreensão
histórica da linguagem em sua relação com o Esatdo,
a ciência, a mídia e as instituições.
Os Editores
O PENSAMENTO ETNICISTA NA URSS E
NA RÚSSIA PÓS-SOVIÉTICA.
PATRICK SÉRIOT
Universidade
de Lausanne
RESUMO:
Este artigo analisa o funcionamento das teorias do etnos na segunda metade
do século XX na União Soviética e na Rússia
pós-soviética. O autor mostra que esse
conceito se funda no determinismo étnico na concepção
das comunidades nacionais, pelo qual se produz a exclusão do Outro,
uma vez que a possibilidade de escolha pessoal é invalidada.
O DISCURSO SOBRE A LÍNGUA NO
PERÍODO VARGAS (ESTADO NOVO – 1937/1945).
ENI P. ORLANDI
DL/IEL e
Labeurb/Nudecri - Unicamp
RESUMO:
O discurso sobre a língua é um lugar de observação
interessante para conhecermos a história das políticas de
língua que vão-se dando ao longo dos tempos e sobretudo durante
diferentes regimes de governo. Faço aqui uma breve análise
do período da ditadura de Vargas no Estado Novo no que se refere
à questão da língua. Podemos por aí compreender
como a questão da língua pode ser algo sujeito a controle
e à censura.
topo
CIDADANIA: O SURGIMENTO DA PALAVRA.
SHEILA ELIAS DE OLIVEIRA
Universidade
Estadual do Centro-Oeste do Paraná - Unicentro
RESUMO:
Este artigo analisa a mudança na designação da condição
de cidadão a partir da qual se originou a palavra "cidadania".
A observação do movimento semântico de "cidadão"
em um corpus de dicionários dos séculos XVIII e XIX mostra
que "cidadania" nasce do sentido jurídico moderno de "cidadão",
o que leva a autora a argumentar que a evidência pela qual a etimologia
é tomada e que a derivação não deve ser tratada
como questão puramente morfológica.
topo
CONCEPÇÕES
DE ENSINO DE LÍNGUA ESCRITA EM CURSO DE FORMAÇÃO
CONTINUADA.
MARIA AUXILIADORA
BEZERRA
Universidade
Federal de Campina Grande - UFCG
RESUMO:
Este trabalho examina a concepção de ensino de língua
escrita de um grupo de professoras de Língua Portuguesa em formação
continuada. As análises mostram que embora tanto os conhecimentos
da academia quanto os experenciais da prática profissional interfiram
na formulação de conceitos de ensino de escrita, estes últimos
parecem exercer maior influência, visto que a tradição
escolar favorece a apropriação de estruturas formulaicas
relacionadas aos gêneros textuais.
AYRTON SENNA:
A MEMÓRIA DISCURSIVA DA MÚSICA TEMA DA VITÓRIA.
NEUZA BENEDITA
DA SILVA ZATTAR
Universidade
do Estado de Mato Grosso - Unemat
RESUMO:
Este texto analisa um dos processos de constituição da memória
histórica de Ayrton Senna através da música Tema
da Vitória e do enunciado "Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil"
que, quando levados ao ar, significam a vitória do piloto brasileiro
na corrida da Fórmula 1 naquele momento. O acontecimento de execução
dessa música, que retorna sob a forma de pré-construído
no acontecimento da primeira vitória de Barrichello em 2000, evoca
a imagem de Senna.
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