Língua e Instrumentos Lingüísticos n° 16

APRESENTAÇÃO

AONDE VAI A ANÁLISE DE DISCURSO? EM TORNO DA NOÇÃO DE FORMAÇÃO DISCURSIVA
JACQUES GUILHAUMOU

AS PALAVRAS, O ESPAÇO E A LÍNGUA: O VACABULÁRIO PERNAMBUCANO
JOSÉ HORTA NUNES

PARA A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: MUDANÇA E MEMÓRIA

SONIA M. L. CYRINO e MARIÂNGELA P. G. JOANILHO

CRÔNICAS E CONTROVÉRSIAS
IDENTIDADE LINGÜÍSTICA O CONCEITO EM DISCUSSÃO
LEILA SALOMÃO JACOB BISINOTO

RESENHA

MIKHAIL BAKHTIN: CONTRIBUIÇÕES PARA A FILOSOFIA DA LINGUAGEM E ESTUDOS DISCURSIVOS
ZANDWAIS, A. (ORG.)




APRESENTAÇÃO

    O número 16 de Línguas e Instrumentos Lingüísticos abre com o texto “Aonde vai a Análise de Discurso? Em torno da noção de formação discursiva”. O analista de discurso francês Jacques Guilhaumou reafirma a pertinência da noção de formação discursiva, banida da AD francesa desde o início da década de 1980. O autor parte da análise de alguns verbetes em dois dicionários de Análise do Discurso. A noção de formação discursiva, reformulada, é reinscrita pela sua capacidade heurística dentro dessa racionalidade científica. O texto contribui para a reflexão tanto sobre a história desta noção-conceito na França quanto sobre a produção de conhecimento na AD.
    O texto de José Horta Nunes, “As palavras, o espaço e a língua: o Vocabulário Pernambucano”, apresenta uma análise discursiva deste vocabulário regional do início do século XX. A análise mostra a singularidade deste instrumento em relação a vocabulários regionais anteriores, ao dicionarizar o espaço urbano. Mostra ainda como o regional não exclui o nacional, mas o constitui, num modo de dizer que vai tecendo um imaginário de unidade para o país, ao expandir o espaço sincrônico representado ao mesmo tempo em que se situa uma memória de colonização na historicidade dos nomes.
    A construção de uma unidade e da identidade nacionais é também questão em “Para a história do português brasileiro: mudança e memória”. Sonia Cyrino e Mariângela Joanilho fazem um movimento de análise histórica interessante na medida em que tomam, em um corpus de jornais brasileiros do fim do século XIX e início do XX, de um lado, um conjunto de dados sobre o preenchimento do objeto sintático  e, de outro, o dizer sobre a língua. Por essa via, mostram como o discurso de identidade e o próprio movimento identitário inscrito nas formas da língua trabalham juntos na tensão unidade-diversidade entre português do Brasil e de Portugal.
    O conceito de identidade é tema da seção Crônicas e Controvérsias, que traz o texto “Identidade lingüística: o conceito em discussão”. Após percorrer o conceito de identidade no campo da Antropologia, Leila Bisinoto analisa o conceito de identidade lingüística ao longe de várias teorias lingüísticas, mostrando que, em sua polissemia, ele atravessa a história do pensamento sobre a linguagem.
    A resenha deste número é do livro Mikhail Bakhtin: Contribuições para a Filosofia da Linguagem e Estudos Discursivos (Sagra Luzzatto, 2005), que reúne, sob a organização de Ana Zandawais, textos de especialistas estrangeiros e brasileiros. A descrição cuidadosa de Gesualda Raisa dá visibilidade à importância da obra para uma leitura mais acurada dos conceitos bakhtianos e para a compreensão do contexto social, científico e político no qual se produz a obra deste pensador russo influente nos estudos lingüísticos no Brasil. A obra, contribui, ainda, de modo específico, para a compreensão das semelhanças e diferenças entre Bakhtin e Michel Pêcheux, que no campo da AD na França, aborda a linguagem também de uma perspectiva materialista.
    Com este percurso proposto pela reflexão sobre noções-conceitos em domínios específicos do conhecimento, e pelo trabalho de noções e conceitos em análises produtivas sobre determinados fatos de linguagem, o décimo sexto número de Línguas e Instrumentos Lingüísticos, dando visibilidade à materialidade lingüística, histórica e política de dizeres leigos e teóricos sobre a linguagem.

   


Os Editores




AONDE VAI A ANÁLISE DE DISCURSO? EM TORNO DA NOÇÃO DE FORMAÇÃO DISCURSIVA

JACQUES GUILHAUMOU
C.N.R.S./ENS-LHS Lyon

RESUMO:  Este artigo examina o percurso da noção de formação discursiva na Análise de Discurso francesa, noção esta banida por autores franceses na década de 1980. o autor reconsidera a pertinência da noção, agora reformulada, a partir de uma reflexão sobre o modo de produção de conhecimento em AD e sobre a capacidade heurística da noção no aparato teórico-metodológico disciplina.

ABSTRACT: This article examines the trajectory of the notion of discursive formation in French Discourse Analysis (AD), notion thata was banned by French authors in the decade of 1980. The author reconsiders the pertinence of the notion, new reformulated, through his reflection on the manner of producing knowlegde in AD and on the heuristic capacity of the notion in the theoretic-methodological apparatus of the discipline.





AS PALAVRAS, O ESPAÇO E A LÍNGUA: O VOCABULÁRIO PERNAMBUCANO.

JOSÉ HORTA NUNES
UNESP

RESUMO: Este artigo analisa o Vocabulário Pernambucano, de Pereira da Costa, do início do século XX. O discurso desse dicionário produz um deslocamento na história da lexicografia brasileira, com a passagem de uma perspectiva histórica em direção a uma perspectiva sincrônica e geográfica da língua. Nos verbetes, a relação entre nomes comuns e próprios instala um discurso geográfico nacional no interior do dicionário regional. Este discurso remete a uma memória dos colonizadores e seus gestos de conquista dos espaços. As análises mostram ainda como a sinonímia, a derivação e os exemplos funcionam na construção dessa imagem sincrônica e geográfica da língua.  

ABSTRACT: This paper analyses the Vocabulário Pernambucano, by Pereira da Costa, from the beginning of the 20th century. The discourse of this dicitionary produces a shift in the history of Brazilian lexicography, changing from a historical perspective to a synchronic and geographical perspective. In the entries, the ralation between common and proper names installs a national geographical discourse in theregional dicitionary. This discourse refers to the memory of show how synonymy, derivation and examples work in the construction of this synchronic and geographical image of the language.


topo



PARA A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: MUDANÇA E MEMÓRIA.

SONIA M. L. CYRINO
UNICAMP/CNPq
MARIÂNGELA P. G. JOANILHO
UEL

RESUMO: Este trabalho discute os percursos de configuração dos sentidos da língua nacional do Brasil, a partir do estudo de textos publicados em jornais brasileiros do fim do século XIX e do início do XX. A análise enunciativa do dizer sobre a língua, de um lado, e de um fato sintático – o preenchimento do objeto direto, de outro, mostra que no espaço de trabalho da língua no corpus emergem diferenças e/ou regularidades que permitem observar a fundação de um discurso sobre identidades brasileiras, bem como perceber esse movimento de identidade nas formas da língua.

ABSTRACT: This article discusses the trajectories of configuration of senses of the national language in Brazil, based on a study oh texts published in Brazilian newspaper by the end of the nineteenth and beginning of the twentieth century. The enunciative analysis of what is said about language, on the one hand, and of a syntactic fact – the filling og the object, on the other, shws that in the workspace oh language differences and/or regularities emerge which make it possible to observe the foundation of discourse on Brazilian identities, as well as to capture this movement of identity in the forms of the language.




| inicial | créditos | links | contato | mapa do site |