Relatos nº 02

Apresentação

A Lei da Intercorrência
A.J. de Macedo Soares

Sobre a etimologia da palavra Boaba ou Emboaba
A. J. de Macedo Soares

Grammatisation

Língua e oralidade
Tânia C. Clemente de Souza




APRESENTAÇÃO

    Neste número de Relatos optamos por apresentar dois textos de Marcelo Soares, do século XIX, em que são trabalhadas tanto a construção de um saber metalingüístico como a constituição da língua  nacional.
    No primeiro caso – o do saber metalingüístico – o texto “A Lei da Intercorrência” refere a uma questão teórica que é a da constituição de uma lei semântica na Historia das Idéias Lingüísticas no Brasil. Essa questão inscreve-se no campo aberto pelo movimento Wörter und Sachen. O segundo texto –  sobre a etimologia da palavra Boava ou Emboaba – é uma reflexão que trata, entre outros, da influência das línguas indígenas no português.
   
A publicação destes textos visa dar a conhecer, mas também a fazer circular e produzir novas reflexões, assuntos que fazem parte de nossa história e que, em geral, são poucos conhecidos ou poucos trabalhados. Tirá-los do esquecimento e fazê-los presentes, nesse momento e na perspectiva de um projeto como o nosso, que trata da constituição do saber metalingüístico e da formação da nossa língua, é re-significá-los, e dar-lhes uma atualidade teórica e analítica.
    Fica a sugestão para que os estudiosos do português brasileiro trabalhem também a história do seu conhecimento, o que pode levar a novos resultados o que, de um lado, evita que se diga o que já foi dito há alguns séculos e, de outro, propicia a construção de um conhecimento novo não a partir do que ignoramos mas do que já conhecemos.

    No caso específico, gostaríamos de ressaltar o modo como o estudo das terminologias, a construção de leis semânticas, apontam para o fato de que, ao construir um conhecimento sobre a língua se está sempre dando visibilidade aos processos pelos quais a língua nacional brasileira se institui em sua peculiaridade, no caso presente no contato entre a língua portuguesa/língua indígena.

Campinas, Junho de 1995.
Eni Puccinelli Orlandi


 
A LEI DA INTERCORRÊNCIA (1)

    Conhece-se em patologia o fenômeno da Intercorrência: a febre intermitente no sarampão; a varíola na febre tifóide, etc., que faz a moléstia primitiva tomar outra forma, ou diferente curso. O mesmo se dá na linguagem. Os vocábulos alteram-se, na forma e na significação, por se meter de permeio na idéia que não exprimiam antes. As corrupções que daí resultam são quase sempre eruditas; poucas vezes, populares. Os literatos, ignorando a etimologia ou a verdadeira significação da palavra, imaginam que ela deve ser segundo a idéia que supõem representar, e dão-lhe a forma congruente.
    São tão numerosos os exemplos que se pode formular a lei da intercorrência como a única explicativa de corrupções lexicográficas, que não obedecem às leis da transmutação das letras e outras conhecidas na filologia.         Para exemplificar, citaremos uma ou outra palavra.
        Catapora ouve-se da boca e lê-se nos escritos dos médicos brasileiros; e já é popular nas grandes cidades. É o termo Brasil tatapora, pelo qual tupis e guaranis designavam toda a moléstia caracterizada por febre, rubor, erupção cutânea, como o sarampão, a varíola, a varicela, a escarlatina, a roseola, etc. Compõe-se de tatá fogo e por que tem. Não é corrupção popular, porque o povo do litoral e do interior ainda diz tatapora. É corrupção erudita devido à intercorrência da preposição grega XATÁ, que aparece em catalepsia, catacrenial, catarro, catarata, cataplasma e outros da tecnologia médica.
       Nos nomes de lugares, é raro que não se anteponha um i, principalmente se começam pela sílaba ta. Nos escritos e nos mapas antigos sempre se escreveu Carahy, rio que deságua na baía de S. Domingos, em Niterói. É o rio de peixe acará ou cará (compare-se Piumhy, rio do mosquito pium; Pirahy, rio do peixe; Jacuhy, rio do Jacu; Tatuhy, Corumbatáhy, Sapucahy, Itahy, Suruhy, etc, etc.). Escreve-se e diz-se, entretanto, Icarahy.
       Augusto de St. Hilaire já havia feito essa observação. É intercorrência do Brasil î, água, rio, que os eruditos imaginam ali; o hábito de antepor o i nos vocábulos brasis que começam por ta, nos que eles cuidam esta a palavra ita pedra.
    Tapemirim, Tabapoana, Tapacorá escreviam os nossos historiadores, geógrafos e visitantes dos séculos XVI, XVII e XVIII, di-lo ainda o povo. Hoje dizem os eruditos Itapemirim, Itabapoana, Itapacorá.
   Tocaya é palavra Brasil, que significa atalaia, mirante, miradouro, mangrulho. O povo ainda diz Tocaya; os eruditos escrevem Itocaya, imaginando que ali está em composição ita, porque a Tocaya é uma pedra. E note-se que lá ao pé dela está o morro conhecido por morro da Atalaia.
       São fenômenos de intercorrência, e corrupções literárias, não populares.
    Não comportam as páginas desta folha maior desenvolvimento. Em um Dicionário da Língua Portuguesa, que talvez breve daremos à estampa, verão os leitores muitíssimos exemplos e desviação da forma ou do sentido primitivo de uma palavra por intercorrência de outra palavra ou idéia diversa.

Rio de Janeiro, 24 de Dezembro de 1887.

Nota:
(1) Este texto foi publicado em A Semana – Gazeta Literária – Ano II – Vol III – 156, p. 395 Rio de Janeiro, 24 de Dezembro de 1887. Foi depois incluído em Estudos Lexicográficos do Dialeto Brasileiro. (Nota do Org)





SOBRE A ETIMOLOGIA DA PALAVRA BOABA OU EMBOABA (1)

BOAVA, contracto de emboaba, português, estrangeiro, filho de fora. 

    É difícil a etimologia dessa palavra. A que dão os nossos antigos escritores e Aug. De St. Hilaire, Rio Jan. et Minas, I, 77,reproduz, dizendo ser embuaba o nome de um pássaro de pernas emplumadas, e foi dado aos europeus por andarem de botas, nos não parece plausível, não obstante vermo-la seguida por muitos dos nossos literatos, entre os quais os Sr Dr J.M. de Macedo, nas suas Lições da História do Brasil, onde traz: “Emboaba ou  boaba quer dizer pernas vestidas: vem do guarani Mboab, que assim chamavam os índios aos europeus, por esses trazerem calças”. O ilustre viajante citado diz: “parce qu’ils (lês européens) portaient dês bottes ou dês guêtres, botas ou polainas.” 
 O Sr desembargador J. Caetano da Silva Guimarães, adotando a exposição de Ayres do Casal e de Pizarro, assim explica: “Os europeus usavam calções e meias, e andavam calçados, menos quando trabalhavam na mineração; e por isso os apelidavam os paulistas de emboabas, nome indígena de um pássaro que tem os pés cobertos de penas, como há galinhas e pombas a que vulgarmente se chama calçudas”: (Recreador Mineiro, 1879, n.3, 80). É outra versão: ali forma os índios, aqui os paulistas os inventadores da alcunha; concordam todos porém que os pacientes eram os europeus, isto é, os estrangeiros.
    Por chegarmos a um resultado nesta investigação lexicológica, ponhamos fora de contestação duas proposições irrecusáveis: a 1a, que em guarani cabelo se diz aba, diferente é amboaé, e homem abá; 2a, que no falar dos índios, como dos sertanistas, ontem, como hoje e sempre, emboaba, boaba, boava, significa forasteiro, filho de fora. “Dois frade... deram princípio à desunião dos Paulistas com os Forasteiros ou Boabas: (Rev. Tr. do Instit. Hist., 1841, Catal. dos Capit-mores 77).
 “Imboabas, estrangeiros” dá o Dr Baptista Caetano, na Introd. À Arte de Gram. De naç. Kiriri por Mamiani, XXXV.
 “Se fizeram notavelmente poderosos (os paulistas), chegando alguns a tanta soberania, que falando com os forasteiros, os tratavam por vós, como se fossem escravos” (Rev. Tr. do Instit. Hist., 1841, Levantam. Em Min. Ger. no ano de 1708, 262).
    Esses forasteiros eram precisamente os emboabas, os portugueses, os inimigos, não já dos índios, porém dos paulistas. “Cinco embuabas, fingindo-se de paulistas”. (ibid, 271).
    Ora, recorrendo ao clássico Tesouro Gurarani, de Montoya, achamos amboae, diferente, estranho, de amõ, alguém e aé outro; de onde amboabae, estranhar alguém; abáaé, homem diferente. Logo, quando os índios quisessem referi-se aos portugueses, ou em geral aos homens de fora da terra, não índios como eles, e para eles desconhecidos, haviam de empregar vocábulos como estes: amboaé, um estranho, abáaé, homem estranho; amboabáaé ou mais corretamente, abáamboaé, um homem estranho, proposto o substantivo ao adjetivo, como é de regra. (Anchieta, Arte, ed. Platzmman, 12; Dr Baptista Caetano, Esboço Gram. do Abâñee, n. 50, nos An. da Bibliot. Nac., VI, 16). Nesses vocábulos se há de achar a origem de emboaba: estará porém, só neles? Nos parece que não, e precisa construir a palavra de outra maneira, compondo-a como elemento novo. É uma hipótese que humildemente sujeitamos à apreciação dos entendidos.
    O nosso doutíssimo americanólogo, autoridade na matéria, Sr Dr Baptista Caetano, na Carta que precede ao Esboço supracitado, dizendo: “E esses mamelucos, caboclos, caipiras, falando a língua do “outro”, do estrangeiro, do homem de lá longe, do emboaba (amôabá)”, parece formar a palavra assim: amôabá, diferente homem. Contra essa formação, porém, conspira a regra por ele mesmo posta e já referida, que “os adjetivos qualificados seguem-se sempre ao nome que qualificam”. Seria então a palavra abáamô, de que fora impossível tirar emboaba, sem uma inversão contrária ao gênio e à sintaxe da língua.
    Consultado pelo nosso tão sábio quanto assíduo cultor das coisas pátrias, o Sr senador Cândido Mendes, deu o Sr Dr Baptista Caetano a seguinte explicação, que lemos na Rev. Tr. do Inst. Hist., 1878, Not. para a Hist. Pátr., 112: “Imboaba corresponde ao pé da letra a o-mboábae, que quer dizer o lançador, o armadilheiro, o que arma laço: e, portanto, i-amboa-báe significa os lançadores de gente. Conseqüentemente pérfidos, traidores, designando-se assim os forasteiros de Minas gerais”.
    Esta interpretação não foi aceita pelo ilustrado Sr senador. Para S. Ex. imboaba é corrupção dos termos amô-abá, outro homem, o estrangeiro; ou ainda de amô-uára, outra nação. Já vimos que amo-abá não é construção guarani; nem por conseguinte amô-uára, que, de mais a mais deveria dar amôguara, donde dificilmente sairia emboaba.
    A interpretação que nos atrevemos a arriscar, si et im quantum, é a seguinte:
    Talvez a palavra venha de aba-ambôaé-abá, homem de cabelo diferente, pois quer o europeu, quer o africano ou o mulato, tinha cabelos diferentes dos do índio; e essa diferença era muito sensível e em lugar assaz aparente para chamar a atenção dos aborígines máxime dos tupis e guaranis, gente de cabelo grosso, Nero, luzente e corredio.
    Justifica-se a composição pelas regras do abâñeé, proposto o adjetivo ambô ao substantivo aba, e proposto o possuidor  abá ao possuído aba-ambô, isto é, proposto o nome que em latim iria para o nominativo.
    Com o tempo, a locução se havia de encurtar pela supressão de abá. Quando os índios falassem do aba-mbôaé, clara ficava a referência ao homem outro, sem que houvesse necessidade de por claro abá, o homem. Isto se vê em todas as línguas, onde certos adjetivos, à força de serem empregados sós, adquirem a significação de substantivos, e acabam por converter-se neles. Não precisa apontar outro exemplo em português além do adjetivo estrangeiro e o seu correlato nacional: são adjetivos que hoje se empregam como substantivos os estrangeiros, os nacionais(2). No guarani então é muito explicável esse processo pois já nos particípios presentes é usual suprimir abá, homem. “O homem amante” se constrói abá aihúbae; mas o índio diz numa só palavra aihúbae, como nós numa só dizemos o amante. E, pois, é natural que, caindo o final abá, ficasse só a locução abamboaé.
    Para daqui se tirar emboaba só há uma dificuldade, e é explicar como a palavra longa se converteu na breve; se atendermos porém ao gênio das duas línguas que se achavam em confronto, nada mais fácil.
    A tendência dos índios para alongar os finais breves das palavras portuguesas era contrastada pela contrária dos portugueses para abreviar finais longos das palavras indígenas.
    Vamos por diante dos olhos do leitor uma série de exemplos que tirarão toda a dúvida a nossa proposição:

De cabra fizeram os Guaranis ............... cabará
De cavalo fizeram os Guaranis ............... cabayú
De vaca fizeram os Guaranis ............... mbacá
De ovelha fizeram os Guaranis ............... obechá
De sapato fizeram os Guaranis ............... sapatú
De pai fizeram os Guaranis ............... paí
De cebola fizeram os Guaranis ............... ceboí
De uva fizeram os Guaranis ............... ubá
De Pedro fizeram os Guaranis ............... Perú (Montoya)
De pai fizeram os Cariris ............... padzú
De balaio fizeram os Cariris ............... bará
De cesto fizeram os Cariris ............... cetú
De mama (teta) fizeram os Cariris ............... mamá
De bondade fizeram os Cariris ............... buonhetê (Mamiani)
De camisa fizeram os Cames ...............camisá
De cavalo fizeram os Cames ............... keverú
De cachorro fizeram os Cames ............... cachorró
De carneiro fizeram os Cames ............... canderê
De livro fizeram os Cames ............... rivoró (r brando em ambas sílabas)
De galo fizeram os Cames ............... garí (Rev. Inst., 1852, Vocab dos Bugres)
De soldado fizeram os Tupis amazonas ............... çurará
De tesoura fizeram os Tupis amazonas ............... xirorá
De ouro fizeram os Tupis amazonas ............... oró
De roupa fizeram os Tupis amazonas ............... ropá (r brando)
De sapato fizeram os Tupis amazonas ............... çapatú (Couto Magalhães)
Do açúcar  fizeram os Tupis ............... açukerí
Do cabaço fizeram os Tupis ............... cabaçú
De cavalo fizeram os Tupis ............... cabarú
De moço fizeram os Tupis ............... moçu
De hoje fizeram os Tupis ...............ojí
Do livro fizeram os Tupis ............... librú
De mulato fizeram os Tupis ............... muratú
De ferreiro fizeram os Tupis ............... pereirú (falta-lhes o f)
De prato fizeram os Tupis ............... pratú
De púcaro fizeram os Tupis ............... pucurú
De tinteiro fizeram os Tupis ............... tintarérú
De sábado fizeram os Tupis ............... sabarú
De chave fizeram os Tupis ............... chaví (Martius, Gloss.)

    Procediam os portugueses inversamente, abreviando, segundo o gênio do seu idioma, as palavras longas dos índios. Temos exemplos nos nomes das plantas, dos animais e dos lugares, quase os únicos que do vocabulário indígena passaram para o brasileiro. Aqui damos um exemplo:
 
De bacobá (kir) ou pacoba fizeram os portugueses pacoba ou pacova (banana)
De porog, cuia ou cabaço vazio fizeram porongo ou porungo
De irará (eira mel, yará colher) fizeram irára (o papa mel)
De guabirá, guabiró fizeram guabiroba, guavirova
De pag  fizeram paca
De mandiog fizeram mandioca
De Myngaú fizeram mingau

    Goyo-covo (o rio Iguaçu), Goyo-em (o Uruguai), Guayra (o célebre salto do Paraná), Urubúpunga (cachoeira notável do mesmo rio), Came (nação), Paraná, Paranaguá se deviam escrever Goyó-covó, Goyó-êm, Guayrá, Urubúpungá (e o Sr Senador Candido Mendes escreve assim no seu Atlas, e também o Sr Senador Pompeu na sua Geografia) Camé, Paraná, Paranaguá. Entretanto, no Paraná pronuncia-se Gôyo-cóvo, Gôyo-êm, Guáyra, Urubúpúnga, Câme, Paraná, Paranaguá.
    Não é, pois, fora do natural que de abamboaé fizessem os portugueses abamboáe, abamboá, cabelo diferente.
    De abamboá para mbamboá é facílima a passagem, atendendo à propriedade do b medial para atrair o m. Esta regra muito conhecida nas línguas americanas e africanas assim como a do d para atrair o n, corresponde à análoga das línguas neo-latinas em que  m tem a propriedade de atrair o b, e o n o d (Drouin, Dict. compar. des lang. ital.esp. etc., XXV). E a perda do a iniciam é outro fator geralmente conhecido.
    Mas há, pois, dificuldade para converter abamboá em mabamboá.
    Mas, pela mesma razão que do guarani guabirá, guabiro fizeram os portugueses guabiraba, guabiroba, fizeram de mbamboá, mbamboaba, mbamboava.
    O som nasal de mb, nd, ng é de todas as línguas, é da fonética geral do homem, e não somente das línguas americanas, como se persuadiu o nosso sábio indianólogo Sr Dr Baptista Caetano (Esc. de Sc., I, 56). Desde muito haviam os lingüistas reparado que nas línguas dravidianas, por, exemplo, palavra alguma começa por explosiva fraca, g, d, b; quanto às línguas africanas, mais ou menos conhecidas no Brasil, lembraremos que no bunda ou angolês e no congo são tão comuns como no guarani e no tupi os sons nasais de mb, nd, ng. Chamaremos a memória do leitor para as palavras ngola nação, nbonde reino, nganna senhor, ndendê palmeira, mbunda nação, mbaca nação, marimbondo inseto, ngunga sino, macamba gente do mesmo bando, mumbica ruim, mandinga remédio, samba adoração a Deus, muxinga chicote, canga emparelhar, jungir dois a dois, tanga saiote, cabungo urinol, mucamba criada, pango uma erva que se pita como tabaco, banzé súcia, zungú barulho, candonga mentira, curcunda costas, candombe dança, jongo dança, quibando peneira, mulambo farrapos, catinga mau cheiro, munjolo máquina de pisar grãos, marimbau instrumento músico, fandango dança, bumbo tambor, quigonbô erva comestível, berinjela idem, cumbuca cuia, mangaga chefe, principal, macazamba torto, feio e infinitas outras que ouvimos tantas vezes e vemos em Cannecattim, Col. de Observ. Gram. sobre a íing. Bunda ou Angolense, e Dic. de abrev. da Líng. Conguesa.
    Entretanto, as línguas neo-latinas não admitem as nasais mb, nd, ng, sem que seja precedidas de vogal. E daí vem que daquelas palavras africanas que ficaram no brasileiro ou perderam a primeira consoante ou tomaram vogal inicial: mbirimbáu ficou birimbau ou converteu-se em marimbau;nganna passou a anganna; Ngola a Angola; mbaca perdeu o m inicial e ficou baca; mbunda ficou ambunda; nbonde passou a anbonde, e depois a bonde.
    Finalmente a troca de b pelo v, e vice-versa, é fato constante nos portugueses; e o venerável Anchieta, exemplificando a mudança que fazem os galegos do b para o v, aponta a palabra abá: “ut pro aba dizendo avâ” (ed. Platzmann, 6.).
    Daí, amboaba, mboaba, mboava, boava.
    Foi esta última forma boava, que ficou no Paraná e interior de S. Paulo, como alcunha dada não só aos portugueses, mais ainda aos filhos da terra que, nos traços do rosto, na cor, no acento carregado da palavra, na quadratura da figura, no gesto bruto e pesado, se parecem com os incultos filhos de fora, “É um boava”, dizem lá como nós aqui: “É um galego”.
    Aforou-se o vocabulário como próprio e exclusivo do dialeto brasileiro. No princípio abambôaéabá, amamboaé, mamboaé, amboáe, emboava, boava, uma delas era a voz com que o gentio do brasil denotava a gente estranha que, pela vez primeira, pisava as suas praias, invadia os seus campos, rasgava os rios, embrenhava-se pelas florestas, devassava-lhe os segredos do lar. Emboabas eram os paulistas, os mineiros, os goianos, os cuiabanos, os portugueses de qualquer parte que surgissem.
    Do Oyapock ao Prata, do Oceano ao Paraguai há entre as diversas tribos uma palavra para designar o inimigo, o invasor, a gente nova, o estranho, o filho de fora. Na costa, em geral, entre os tupis o estrangeiro é o tapuia, aquele que não é tupi, (ein Wilder, im Gegensatz vom zahmen Indianer oder vom Tupi: Martius, Gloss., II, 88), isto é, o selvagem, contraposto ao índio civilizado, domesticado, índio manso, índio tupi (tanto é certo que as idéias de paz e de ordem são no coração dos homens e dos povos correlatas de civilização!)
    No Maranhão chamam-nos os Caraús de cupês, os brancos, os que não são bronzeados como eles, os diferentes, os outros, os estranhos (Rev. Tr. Instit. Hist., 1848, Rot. da Viaj. do capitão F. de P. Ribeiro, 78).
    Em Goiás apelidam os Chambioás aos cristãos de turís (ibid., Viaj. de Goaiz ao Pará, 195).
    Nas Missões os brancos são caraibas; e ainda hoje no Paraguai o índio se orgulha chamando-se de abá, o homem por excelência, em contraposição ao caray, o estrangeiro, que ninguém sabe donde vem, gente à toa.
    Entre os bugres de Guarápuava, os portugueses, sinônimo de estrangeiros, são cuprís, isto é, os brancos, quase os cupês dos Caraús, e um pouco dos turís dos Chambioás.
   Os Cayuás, dos aldeamentos à margem do Paranapanema, no Paraná, chamam os brancos de carybas, que correspondem aos caraybas dos Guaranis paraguaios (Rev. Tr. Instit. Hist., 1856, Vocáb. dos Índios Cayuás).

  Note-se que carayba quer dizer astucioso, manhoso, e se aplicava especialmente ao feiticeiro, que tinha partes com o diabo. Y assi lo aplicarona los Españoles, e muy mpropriamente al nombre cristiano y a cosas benditas, y así no usamos del en estos sentido – diz Montoya, queixoso de tanta irreverência; mas sem razão, que os pobres dos selvagens a tinham às carradas...
    Os franceses são tupuy-tingas, tapuias brancos, tapuias outros, inimigos de fora da terra, descendentes de outra raça que não a americana (Rev. Tr. Instit. Hist., 1851, Com. de Varnhagen de Rot. de Gabr. Soares, 406).
 Nos sertões de Mucuri os brancos são os chretonhe, kretonhe, cristãos, como os portugueses se apelidavam, aparentando terem vindo à América com o pio fim de dilatar a fé de Cristo!... (Rev. Tr. Instit. Hist., 1846, Viaj. às vil. de Caravelas, etc. 443).
    Ainda hoje os Cayuás tratam os estrangeiros de amôabá, gente estranha, homem diferente (Vocáb. cit.).
    Era, assim, por esse tempo, emboaba voz exclusiva do índio para apelidar o português; mas depois, tomada pelos invasores a posse de terra, nacionalizados os portugueses em paulistas, mineiros, goianos, cuiabanos, baianos, maranhenses, pernambucanos eram eles, não mais os índios, os senhores da terra, e seus filhos os naturais dela. Emboabas, não, já não o eram: o emboaba era o estrangeiro, e o estrangeiro, o não brasileiro, era o recém-chegado ao Reino.
    Destarte, pouco a pouco, foi a alcunha ficando só para portugueses, cuja avidez dos bens do Brasil sobranceria aos naturais dele os fazia odiados de todos os moradores, fossem índios ou brasileiros. No motim do rio das Mortes, território das Minas (1708), chamado a Guerra dos Emboabas, o índio não apareceu: brigaram os emboabas (ou os portugueses) com os paulistas (ou os brasileiros).
  Esse ciúme de nacionalidade perdurou até se consolidar a nossa independência política; e são conhecidos os barulhos a que deu lugar no Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Maranhão, Pará, em toda a parte.
    O português, o pé de chumbo, o galego, o mariola, o marinheiro, o lapuz (não havia apelido ridículo que se lhe poupasse, e ate lhe encurtavam o nome do país e da pátria, chamando-o de portuga!) era, nada mais, nada menos, o emboaba, dos tempos coloniais: primeiro, o português que vexava o índio; depois, o português que vexava o brasileiro.
    Sem fazer grande cabedal do modo da formação etimológica da palavra emboaba, venha de aba-mbôaé-abá ou de amôabá, ou de amôaba, ou de  ambôaé-hab (partc. de aycó ser), o essencial de assentar é a significação lexicográfica. Ora, cremos ter tirado a limpo que o emboaba nunca significou o calçudo, pernivestido expressão de mofa ou desprezo; porém, sim, e só, e sempre, o estrangeiro, o homem de fora, o inimigo oriundo de outra raça, o português, expressão de desconfiança a princípio, de ódio depois, e ódio plenamente justificado para com as feras que Portugal alijava aos montes nas praias da colônia.

Mar da Espanha, 1 de Setembro de 1879.

Notas
(1) Este texto fazia parte do Vocabulário da Província do Paraná, do autor, tendo sido incluído em Estudos Lexicográficos do Dialeto Brasileiro. (Nota do org)
(2) Veja-se Darmesteter, Créat. de Mots nouveaux, 46.

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GRAMMATISATION

Subs. fém, 1985 (v. grammatiser, 1992).
port. Gramatização
    Balibar (1985, pp 168,178) a forgé ce néoloism pour designer le processus par lequel on fait apprendre la grammaire scolaire à quelqu’um (de même qu’alphabétisation designe dans la langue courant le processus par lequel on “alphabétise” um individu ou une population); “Alphabétistion pourrait done aujourd’hui servir à designer lês apprentissages des anciennes écoles des pauvres, par contraste avec la grammatisation forrmation grammaticale commune à tous lês citoyens” (l.c., p.178). Le terme possède également une autre origine et une autre acception, chez lês historiens des sciences du langage (Auroux 1992 a, b) confrontes à l’apparition des premiéres grammaires des différentes langues du monde. Dans ce sens le verb correspondant, grammatiser, a pour objet la matière linguistique elle-même (on grammatise une langue). Pour designer ce processus, F. da Silveira Bueno (1995, chap. XIV; A gramaticalização do idioma), puis Carvalho Buescu (1983, “O trabalho de grammaticalização das línguas exóticas que os portugeses encontraram”) ontutilisé em portugais um néologisme sémantique qui correspond morphologiquement au français grammaticalisation, mot que l’on recontre sporadiquement en français avec le même sens (par exemple, chez Trudeau 1992, pp.26, 28, 31, 35-36, 71). Ce dernier terme étnat deja utilisé par les linguistes pour désigner le figement d’un procede discursif dans la grammaire d’une langue, g. Permet d’éviter la collsion homonymique.
    G. désigne la processus par lequel une langue se trouve “outillée”, notamment à l’aide de grammaires et de dictionnaires. Ce processus a pour préalable la construction d’une représentation graphique de la langue. Cette façon de voir l’histoire des sciences du language a pour conséquence que grammaires et dictionnaires ne sont pas envisagés de simples représentations d’une langue qui leur préexisterait, uniformément distribuée dans la compétence de chacum de ses locuteurs. Ce sont également des outils linguistiques externes aux sujet parlants qui modifient les espaces de communication (standardisation et stabilisation). Les premiers grammairiens, confrontés à des espaces d’oralité et par conséquent de variations, traduisaient bien souvent ce fait em se vantant d’avoir “réduit à des régles” la langue don’t ils s’occupaient.
    La g. a d’abord affecté certaines langues (arabe, grec, Sanskrit), toutes flexionnelles, selon un processus spontané et relativement différencié qui est à l’origine de grandes traditions d’analyses et de technologies linguistiques. Ces traditions sont originairement monolingues. Par transfert, dû aux locuteurs euxmêmes (endogrammatisation, par exemple du grec au latin, du latin aux vernaculaire européens), ou à des étrangers désireux de décrire et dominer lalangue d’autrui (exogrammatisation, par exemple du latin aux langues amérindiennes ou du Sanskrit au persan), la g. s’est par la suite étendue. La renaissance européenne est le point d’inflexion quantitative d’un long processus qui conduit à produire des dictionnaires et des grammaires de toutes les langues du monde (at pas seulement des vernaculaires européens) sur la base de la tradition gréco-latine et de ses categories. Ce processus de g. massive – contemporain de la révolution galilénne dans lês sciences de la nature – semble unique dans l’histoire de l’humanité; les technologies mises au point pour l’arabe ou le Sanskrit, qui ont chacune donné lieu à des extensions notables, n’ont pas connu un phénomène d’une telle ampleur. Il a profondément change l’écologie de la communication humaine et a donné à l’Occident des moyens de connaissance et de domination sur les autres cultures de la planète. Il s’agit
    Proprement d’una revolution technologique, peut-être aussi importante pour l’histoire de l’humanité que la revolution agraire de néolitique ou la revolution industrielle de XIXe siècle. On peut également y voir l’origine de programme scientifique de la linguistique occidentale, dans la mesure oú celle-ci se propose, dès l’apparition de la grammaire genérale, de dégager des lois valables pour toutes les langues du monde.
    On sait que la tradition chinoise n’a pas connu de naissance spontanée de la grammaire et qu’elle a essentiellement concerné la phonétique et la lexicologie. Comme dans le cas de la g., il s’agit de l’outillage d’une langue à l’aide de technologies linguistiques. Il ne semble toutefois pas évident d’indentifien le cas chinois au phénomène de g. que l’on voilerait la spécificité que la reflexión et les technologieschinoises tinnet autant de la nature isolante de leur langue que de leur écriture logographique et de leur histoire culturelle. Il semble que l’écriture logographique puísse se transposer (lecture japonaise ou coréenne de certains caracteres) sans véritablement s’adapter à la structure de la langue cible, mais em induisant une transformation de celle-ci. Par ailleurs, lors du transfert à dês langues morphologiquement plus riches (cãs de japonais, langue agglutinante), ce transfert finit par induire une profonde transformation de la tradition d’origine et du système d’écriture lui-même. Le cãs chinois et l’unicité de la révolution technologique massive issue de la g. occidentale demeurent des problèmes historiques et épistémologiques largement ouverts.

– S. Auroux  (1992a) “Introduction. Le processus de grammatisationet ses enjeux”, Auroux (dir), Histoires des Idées Linguistiques,  tome 2: développement de la grammaire occidentale Liège, Mardaga, pp. 12-64 
– S. Auroux (1992b) A Revolução Tecnológica da Gramatização, Campinas, Editora da Unicamp,1992. 
– S. Auroux (1994) La révolution technologique de la grammatisation, Liège, mardaga 
– R. Balibar (1985), L’institution du français. Essai sur le colinguisme des caroligiens à la Republique, Paris, PUF. 
– F. da Silveira Bueno (1955) A Formação Histórica da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Livraria Acadêmica. 
– M.L. Carvalho Buescu (1983), O estudo das línguas exóticas no século XVI, Lisboa Biblioteca Breve, Ministério da Educação. 
– D. Trundeau (1992) Les inventeurs du bom usage (1529-1647), Paris, Les Editions de Minuit.
 
Nota
(1) Este texto é o verbete para a enciclopédia que está sendo preparada pela equipe francesa do projeto História das Idéias Lingüísticas, coordenada pelo Prof Dr S. Auroux.



LÍNGUA E ORALIDADE


Tânia C. Clemente de Souza
Universidade Federal fluminense – IACS

    Em trabalho recente – Discurso e oralidade – Um Estudo em língua Indígena (1994, Tese de Doutorado) – me propus a definir o discurso indígena estudando a materialidade de uma língua sem escrita – o bakairi, língua da família Carib.
    Diante da necessidade de fazer uma descrição lingüística, me deparei com a constatação de que, no âmbito da lingüística, falar do funcionamento das línguas pressupõe, de forma generalizada, a cisão entre o oral e o escrito, cisão que recobre a dicotomia discurso/língua. Nesse sentido, as teorias trabalham com considerações sobre a gramática de frase, a gramática do discurso, a gramática de texto, etc. E a relação entre o discurso e a língua se define por uma questão de interferência, por uma questão de causa e efeito.   Assim, o funcionamento lingüístico é previsto ora por uma injunção da sintaxe, ora por uma injunção do discurso e a parametrização das línguas caminha na mesma direção: línguas voltadas para o discurso e línguas voltadas para a sentença.
    Sob essa ótica, de antemão, já poderia “descobrir” no bakairi as características das línguas sem escrita, aquelas voltadas para o discurso, e produzir um apagamento contumaz no estudo das línguas indígenas, que é, a priori, definir-lhes a estrutura sintática, sem descrever o funcionamento no interior da própria língua.
   
Buscar entender, entretanto, os mecanismos discursivos do bakairi sem supor um tipo de sintaxe pré-estabelecido, me fez deparar com a oralidade isenta de uma relação com a escrita e me fez, ao mesmo tempo, constatar para o bakairi os mesmos fenômenos gramaticais encontrados nas línguas de escrita que, no caso, são explicitadas pelo viés língua/discurso.
    Assim, nosso estudo vem falar de múltiplas relações: língua/discurso, enunciação/oralidade, sonoridade/significação, oralidade/metalinguagem e discurso/oralidade. De imediato, essas relações apontam, em nível gradativo de explicitação, o que é pensar a oralidade – dita na prosódia, na morfologia, na sintaxe, no discurso – sem pressupor uma posição dicotômica com a escrita. Ou seja, a descrição da materialidade da língua é recoberta pela descrição da materialidade da oralidade, recuperando-se aí a ontologia da oralidade. O que favorece repensar uma série de fatos.
    No âmbito da sonoridade, por exemplo, observamos que os contornos melódicos e as onomatopéias não se esgotam como fatos de prosódia, ou como recursos expressivos. Ao contrário, são enunciados autônomos, instituídos num plano paralelo ao verbal. Quanto ao seu estatuto lexical, correspondem a enunciados complexos, mas com um papel específico na discursividade. Ocorrem no bojo das falas relatadas em discurso direto e tecem uma das formas de discursividade da língua: o texto descritivo. Não retratam, portanto, uma situação de oralidade por oposição a uma situação de escrita, nem assinalam o espaço de um locutor particular; são fatos constitutivos da materialidade da língua. Em termos epistemológicos, a descrição da oralidade em sua natureza recorta discussões teórico-científicas da maior abrangência, como, por exemplo, a relação metalinguagem/oralidade.
    Auroux (1992), a princípio, ao atribuir o surgimento da metalinguagem à invenção da escrita, considera que os povos sem escrita, no lugar da metalinguagem, teriam condição de desenvolver somente processos epilingüísticos. A metalinguagem implica uma linguagem formal (técnica) que descreveria as reflexões sobre o funcionamento da língua.
    De fato, em sociedade de oralidade não há esse nível técnico de formalização, mas, em outras formas de discursividade, registram-se processos metalingüísticos que mostram a concepção que os povos dessas sociedades têm sobre o funcionamento de sua língua e, até, de outras línguas que eles dominam. Em Souza (idem), há inúmeros fatos que sustentam essas colocações e que revelam que as reflexões dos que falam línguas de oralidade vão além de processos epilingüísticos.
    O tema oralidade/metalinguagem requer uma discussão bem mais ampla. Não se restringe à abordagem de alguns pontos diretamente divergentes. Entretanto, o aprofundamento em termos teóricos da relação oralidade/metalinguagem torna-se fundamental à formulação da história das ciências e, fundamentalmente também à compreensão do deslocamento que se faz da oralidade para se lidar com a dicotomia escrita/oralidade, o que abre um campo fértil de investigações.
    Esse deslocamento, em termos epistemológicos, sustenta o arcabouço de diversas ciências, dentre as quais pode-se incluir, por exemplo, a lingüística, ou os estudos de gramática. Arcabouço que permite determinar, a um só tempo, a abordagem da língua (o modelo), a historicidade da língua (o parentesco) e o imaginário da língua.
    Sendo assim, dentro desse movimento, pode-se também recuperar aqui a questão da historicidade da língua portuguesa falada no Brasil, em especial, no que se refere ao contato com as línguas indígenas.
    Ate hoje, a descrição dessa língua tem sido feita em termos de análises lingüísticas segundo as quais ora se busca uma identificação com a língua falada em Portugal, ora se busca uma identidade própria à língua do Brasil – o português brasileiro. As colocações são feitas a partir de fatos lingüísticos com freqüência refutados por partidários de ambas as posições; fatos esses que contam a história da língua através da história da evolução lingüística em si, não se levando em conta dados de outra ordem – e da mesma forma históricos – como, por exemplo, a constituição da língua falada no Brasil a partir de estudos de fatos da oralidade.
    Enfim, a descoberta da oralidade pela oralidade, e não a partir de sua visibilidade em línguas de escrita – lugar comum no estudo das línguas e na descrição dos discursos –, conduz  à possibilidade de se falar na constituição da materialidade histórica no interior da própria história da língua – aquela que recupera e constitui mutuamente a história do povo e da língua. Em larga instância, podemos dizer que a materialidade histórica vem sendo trabalhada sem se supor a identidade da própria oralidade: esta vem sendo pensada como uma das formas de expressão do verbal – como registro – e não como uma das formas de arquivo, dito na e pela oralidade. O parâmetro para a oralidade tem sido a escrita, o que nos leva a concluir que pensa-se errado não só a oralidade das línguas de oralidade, mas também a oralidade das línguas de escrita.

Referência:
S. Auroux (1992b) A Revolução Tecnológica da Gramatização, Campinas, Editora da Unicamp,1992
Souza, T.C.C.  Discurso e Oralidade – Um estudo em língua indígena. Campinas, Tese de Doutorado (inédito), 1994



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