Literatura Infantil (1880-1910)

 
O juramento                
No Catu

 

 

XLIX. UM NEGOCIANTE DE FUMOS

 

Ao partir o trem de Vila Nova, Alfredo, com o seu desembaraço de criança, angariou logo um novo conhecido. Era um homem de meia idade, que trazia um grande cilindro, encapado de pano grosso e pardo, cosido a barbante nas duas extremidades: Alfredo, pelo aroma que se desprendia do cilindro, reconheceu logo um rolo de fumo.

¾ É fumo, não é? ¾ perguntou o menino ao homem, para entabular conversação.

¾ É fumo, e muito bom! Fumo, como este, não se encontra por aí em qualquer parte!

¾ Vai vendê-lo?

¾ É a minha ocupação. Vou levar estas amostras à cidade da Bahia.

¾ E é um negócio que dá bastante dinheiro?

¾ Bastante... ¾ respondeu o negociante, lisonjeado pela curiosidade do menino. ¾ A Bahia produz muito fumo, e todo de primeira qualidade. Mais de trinta municípios do Estado cultivam e exportam em grande escala este produto. Há fumo, também, em outros Estados do Brasil; mas a produção mais notável é a da Bahia. Ainda acabo de ler, em uma gazeta, que ultimamente, durante cinco anos, a exportação só de fumo em folhas, excedeu cento e trinta milhões de quilos, no valor de mais de cem mil contos de réis! E exportam-se ainda milhões de quilos em rolos, em charutos, em cigarros.

¾ E a cultura é fácil?

¾ Muito fácil. Na Bahia, esta planta dá espontaneamente. Basta um pouco de estrume, e algum cuidado para extirpar das plantações as ervagens perniciosas e para impedir as pragas dos insetos nocivos.

¾ Mas o senhor ainda negocia em outros gêneros?

¾ Atualmente, só em fumo. Mas já fui comerciante em cacau, em café, em couros...

¾ A Bahia é rica! ¾ exclamou Alfredo.

O homem sorriu:

¾ Será muito rica! Muito rica, quando todas as suas riquezas naturais forem intensivamente exploradas. Na Bahia, há fumo, café, cacau, ferro, ouro, diamantes. E todas as lavouras, todas as indústrias e todo o trabalho, que há, não só na Bahia, como em todo o Brasil, progredirão, ainda muito mais do que hoje, quando todo o território estiver coberto de estradas de ferro.

Daí, a conversa, em que também já tomavam parte Carlos e Juvêncio, estendeu-se a vários assuntos.

O trem galopava, parando em poucas estações.

¾ Esta estrada de ferro é nova ¾ explicava o negociante de fumos. ¾ Até há pouco tempo, só havia estrada de ferro da Bahia até Vila Nova. Agora, ela vai até Juazeiro. São mais de quinhentos quilômetros.

¾ É um dia inteiro de viagem? ¾ perguntou Alfredo.

¾ Da Bahia a Juazeiro, dezesseis horas. Os senhores vão até a Bahia?

¾ Vamos. ¾ Respondeu Carlos. ¾ Não vale a pena parar em Alagoinhas.

¾ Se estão com pressa, está claro que não vale, ¾ concordou o homem. ¾ Mas Alagoinhas é uma cidade importante. Tem um grande comércio. Além desta estrada de ferro, que passa por lá, há uma outra, que de lá parte, oitenta e tantos quilômetros, até o Timbó.

 

 

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