Literatura Infantil (1880-1910)

 
Em excursão de prazer                
Um artista

 

A PRIMEIRA LIÇÃO.

 

RAUL não sabe ler;

É um traquinas, que vive toda a hora

Pela campina em fora

A correr, a correr...

 

Desde pela manhã,

Salta do leito em fraldas de camisa,

E por tudo deslisa

Numa alegria sã.

 

Nada de livros, não;

Para ele a  campina, os passarinhos,

Os assaltos aos ninhos,

A pesca ao ribeirão

 

E as corridas em pós

Dos bezerros e cabras e novilhas,...

Rasgando ásperas trilhas,

Veloz, veloz, veloz!

 

Mas, um dia, ele viu

A irmãzita no livro debruçada,

E o som de uma risada

O ouvido lhe feriu.

 

Que teria, meu Deus!

Aquele grande livro tão pesado,

Ali dentro guardado,

Longe dos olhos seus?

 

E aproximou‑se mais.

Ceci, toda entretida na leitura,

Mostrava, rindo, a alvura

Dos dentinhos iguais.

 

E o pequenito a olhar,

Mas debalde; no livro, aberto em frente,

Letras, letras, somente...

Raul pôs‑se a chorar.

 

Pois não estava ali

Um livro injusto e mau, que até escondia

A causa da alegria

Da risonha Ceci?

 

Mas a irmã, tal e qual

Uma bondosa mãe ao filho amado,

Fê‑lo assentar‑se ao lado

E explicou‑lhe o seu mal.

E com tanta razão

Que, abrindo atento o livro misterioso,

Raul pediu, ansioso,

A primeira lição.

 

 

Em excursão de prazer                
Um artista