Literatura Infantil (1880-1910)

 
O ouro e os diamantes                
A lavoura dos cafezais

 

 

LXVI. MATO GROSSO E GOIÁS

 

¾ Quanta riqueza há no Brasil! ¾ exclamou Alfredo, que ouvira com a máxima atenção o que dissera o engenheiro de minas.

¾ Há muita! Muita! ¾ confirmou este. ¾ E grande parte dessa riqueza, para não dizer quase toda, ainda é desconhecida. Nós todos falamos com assombro das jazidas preciosas que há no Estado de Minas, e nem pensamos nas que existem completamente ignoradas em Mato Grosso e Goiás.

¾ São dois Estados muito grandes, não?

¾ São imenso. Mato Grosso, entre os Estados do Brasil, é o segundo em extensão territorial: a sua superfície é maior que duas vezes a superfície da França. Goiás também é gigantesco; tem quase oitocentos mil quilômetros quadrados. Infelizmente essas duas colossais porções da terra brasileira são quase desconhecidas, por falta de vias de comunicação fácil com o litoral. Quando as estradas de ferro e as linhas de navegação fluvial tiverem estabelecido essa comunicação, ninguém pode imaginar  a esplêndida prosperidade que reinará ali. Felizmente, já principiou uma era progresso. Já está adiantadíssima uma estrada de ferro, ¾ a de Madeira e Mamoré, ¾ comunicando Mato Grosso e o Atlântico, pelo Amazonas; o Estado, por meio da Estrada de Bauru a Cuiabá, será ligado a São Paulo e Rio de Janeiro; haverá uma ligação entre Goiás e Minas Gerais, pela Estrada de Formiga a Goiás; e haverá uma navegação a vapor nos rios Paraguai, Guaporé, Juruá e Mamoré... O solo é fertilíssimo, de extraordinário vigor; e ali as pastagens serão utilizadas para uma criação de gado, capaz de abastecer grande parte do mundo.

 

Mato Grosso - Cuiabá.

 

¾ E há muito ouro? Muitos diamantes? ¾ inquiriu Carlos.

¾ Não só ouro, não só diamantes, mas também prata, cobre, ferro, cristais, chumbo, platina, manganês muitas pedras preciosas. No período colonial, era de Mato Grosso que saía a maior parte do ouro expedido para Portugal; houve tempo em que só nos arredores de Cuiabá se extraíam mais de mil quilos de ouro em cada mês.

¾ E Goiás?

 

A floresta virgem, com a sua riqueza de samambaias e lianas.

 

¾ Em Goiás, o solo é também opulento. Foi lá que se deram no século XVII os episódios mais comoventes das viagens de exploração. Um dos primeiros exploradores foi Bartolomeu Bueno da Silva, que chegou até o Rio Vermelho, colhendo muito ouro. Os índios deram-lhe o apelido de Anhanguera, que quer dizer: diabo velho. E o que mais deve interessar os senhores, que são ainda crianças, é que o Anhanguera, nessa expedição, levou como companheiro um filho, que apenas contava doze anos de idade...

¾ Era mais moço do que tu, Carlos! ¾ exclamou Alfredo, abraçando o irmão. ¾ Mas tu também és um herói!

E, voltando-se para o engenheiro, acrescentou com orgulho:

¾ Nós também já viajamos muito! Acabamos de atravessar quase todo o norte do Brasil, e por terra, e a pé!

O engenheiro sorriu, e disse:

¾ Felizmente, já é possível atravessar todo o Brasil, por terra, não a pé, como os bandeirantes, mas em caminho de ferro.

¾ Como?

¾ Por meio das junções das estradas de ferro; o caminho parte de Montevidéu, república do Uruguai, transpõe a fronteira em Sant’ana do Livramento, no Estado do Rio Grande, atravessa este Estado, e os de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, e entronca-se com a Estrada de Ferro Central. A linha principal, pela qual estamos agora viajando, chega até Pirapora, no rio São Francisco. Até aí chegam também os pequenos vapores do norte, que vêm de Juazeiro.

¾ Esses mesmos vapores, em um dos quais viajei há algumas semanas?

¾ Perfeitamente. Depois do percurso fluvial até Juazeiro, iremos pela estrada de ferro até Bahia, e até o extremo norte, porque estão sendo construídas novas vias férreas destinadas a ligar todos os Estados setentrionais.

 

 

O ouro e os diamantes                
A lavoura dos cafezais