Literatura Infantil (1880-1910)

 
Um artista                
Nós três

 

 

O ALMOÇO

 

"VOU almoçar, Mimi.

Não sejas imprudente: espera; espera.

Depois serás servida, e mais Peri.

A muita pressa em males degenera.

 

"Eu sou capaz até,

Vendo esse feio e inesperado aspecto,

De enxotar-vos, amuada, com o pé,

E retirar-vos todo o meu afeto.

 

"Ambos vós, por um triz,

Não vos meteis, comendo, no meu prato...

Sois grosseiros, intrusos e incivis,

E eu não tolero nunca um desacato."

 

Mimi volve-me, então,

Sua carinha esperta e buliçosa.

"Compreendo: estás dizendo, e com razão,

Que achas a minha sopa apetitosa.

 

"E tu, Peri, também;

Mas conservas-te a um lado, e te contentas

Em lamber o focinho, abrindo bem,

Para sentir-lhe o cheiro, as largas ventas.

 

"Estais com pressa, enfim;

Mas eu fico zangada e ensaio um momo,"

Se vejo algum dos dois, junto de mim,

Faminto, olhando fixo o que eu como.

 

Que feio é ser voraz!

"Postar-se a gente assim, cheia de gula,

Com esse modo com que agora estás,

Peri, e que o teu preço todo anula!

 

"Detesto a impolidez.

Agora almoço eu. Ficai quietinhos.

Depois e, cada um por sua vez,

Tereis vosso quinhão, meus amiguinhos."

 

 

Um artista                
Nós três