Literatura Infantil (1880-1910)
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Ao Leitor
Quando a casa Alves & Cª me incumbiu
de preparar este livro para uso das aulas de instrução primária, não deixei
de pensar, com receios, nas dificuldades grandes do trabalho. Era preciso
fazer qualquer coisa simples, acessível à inteligência das crianças; e quem
vive e escrever, vencendo dificuldades de forma, fica viciado pelo hábito
de fazer estilo. Como perder o escritor a feição que já adquiriu, e as suas
complicadas construções de frase, e o seu arsenal de vocábulos peregrinos,
para se colocar ao alcance da inteligência infantil?
Outro perigo: a possibilidade de cair no
extremo oposto – fazendo um livro ingênuo demais, ou, o que seria pior,
um livro, como tantos há por aí, falso, cheio de histórias maravilhosas
e tolas que desenvolvem a credulidade das crianças, fazendo-as ter medo
de coisas que não existem. Era preciso achar assuntos simples, humanos,
naturais, que, fugindo da banalidade, não fossem também fatigar o cérebro
do pequenino leitor, exigindo dele uma reflexão demorada e profunda.
Mas a dificuldade maior era realmente a
da forma. Em certos livros de leitura que todos conhecemos, os autores,
querendo evitar o apuro do estilo, fazem períodos sem sintaxe e versos sem
metrificação. uma poesia infantil conheço eu, longa, que não tem um só verso
certo! Não é irrisório que, querendo educar o ouvido da criança, e dar-lhe
o amor da harmonia e da cadência, se lhe dêem justamente versos errados,
que apenas são versos por que rimam, e rimam quase sempre erradamente?
Não sei se consegui vencer todas essas dificuldades.
O livro aqui está. É um livro em que não há animais que falam, nem fadas
que protegem ou perseguem crianças, nem as feiticeiras que entram pelos
buracos das fechaduras; há aqui descrições da natureza, cenas de família,
hinos ao trabalho, à fé, ao dever; alusões ligeiras à história da pátria,
pequenos contos em que a bondade é louvada e premiada.
Quanto ao estilo do livro, que os competentes
o julguem. Fiz o possível para não escrever de maneira que parecesse fútil
demais aos artistas e complicada demais ás crianças.
Se a tentativa falhar, restar-me-há o consolo
de ter feito um esforço digno. Quis das à literatura escolar do Brasil um
livro que lhe faltava.
O.B.
N.B. — Os editores declaram que este prefácio deixou de ser publicado na 1ª edição por esquecimento da oficina impressora.
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