Literatura Infantil (1880-1910)
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EM FÉRIAS.
NO campo a gente madruga;
Deixa‑se a cama cedinho,
Quando a aurora acorda o ninho
E o orvalho às plantas enxuga.
O céu é todo rubores;
Toda a campina, um veludo...
E ondeia e espalha‑se em tudo
O aroma vivo das flores.
Sai das verdes profunduras
Barulho d'água, ligeiro,
Como um som de voz fagueiro,
Falando de cousas puras.
E deleita e aviva o olfato,
O cheiro forte e sadio,
Que vem das margens do rio
E dos verdores do mato.
Os burricos vão espertos,
Num trote, campina em fora,
Alongando o olhar, que explora
Longínquos plainos desertos
E as vozes dos pequeninos
Ressoam festivamente,
No frescor do ar transparente,
Em vivos sons cristalinos.
Na frente, o mais corajoso,
‑ Chapéu na mão, pronto e ledo,
Explora o campo, sem medo,
Todo radiante de gozo.
E, farejando o caminho,
Pendente a língua vermelha,
O cão, no olhar, o aconselha
A dar a rédea ao burrinho.
Das frescas moitas cheirosas,
Tintas de alegres matizes,
Erguem o vôo as perdizes,
Batendo as asas plumosas.
E mil insetos, zumbindo
No ar puro da madrugada,
Sonorizam toda a estrada
Num concerto estranho e lindo.
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