Literatura Infantil (1880-1910)
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TERNURA MATERNA.
NINHO de beija-flor,
Concha exótica e rara, um leito de noivado,
Ou de criança um berço, o cofre delicado
Do maternal amor?
A luz tépida e sã
Deste formoso dia inunda-o todo; inclina,
Manso e manso, a cabeça, e, por entre a cortina
Da folhagem louçã,
Mergulha o teu olhar...
Quietinho, que o mais leve, o mais sutil barulho
Não lhes perturbe o santo e delicioso arrulho:
Espia devagar...
Não fales, não meu bem!
Do ninho entre os frouxéis, imóveis, quase ocultos,
Sob as asas da mãe, três pequeninos vultos
O seu vôo detêm.
São os filhinhos seus.
Que agitação não vai, naquele entendimento,
Ao nosso olhar, Nenê? que estranho pensamento,
Quantos sustos, meu Deus!
Não fales, meu amor!
Olha somente e pensa. É tão precário e custa
Tão alto preço o gozo - ave, que enxota e assusta
O mais leve rumor!
Retira as mãos sutis.
Paira em tudo do amor a pura essência;
Não perturbes o sonho, a graça da inocência:
Deixa o ninho feliz.
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