Literatura Infantil (1880-1910)

 
Amigos por toda parte                
Trabalhando

 

 

PREGUIÇA E DILIGÊNCIA.

 

NUNO espreita a lição do companheiro

Num olhar de preguiça e de cansaço:

Se pudesse copiá-la por inteiro!...

 

Boceja a miúdo; estende a perna e o braço;

Inclina o corpo a meio; os pés agita,

Volvendo olhares mornos pelo espaço...

 

Entra na sala, como extensa fita

Dourada, a luz do sol, que acende e cora

De Nuno a face, e a trabalhar o incita.

 

E a mesma luz, mais fina e doce agora,

Nimba de ouro os cabelos, e acarinha

De Mário a face, onde o sorriso mora.

 

E, cariciosa e fúlgida, caminha

Abrindo-lhe na fronte estrias de ouro,

Dourando-lhe o perfil de linha em linha.

 

E vai - anúncio ou voz de bom agouro -

Na sua ardósia, em ondas se alastrando

Como esplendor de rútilo tesouro.

 

E Nuno eleva os olhos bocejando...

Sonha um país, onde não haja estudo,

Nem mestre, nem trabalho ordem ou mando;

 

Onde a gente, a folgar, livre de tudo,

- De banquetes e festa os dias cheios,

Se estenda, à noite, em leitos de veludo.

 

Onde a preguiça, em jogos e torneios

Confira o prêmio de maior valia

Aos que a estudos se mostrem mais alheios.

 

Então só ele o galardão teria,

Maravilhando, enchendo todo o mundo,

E acumulando glórias dia a dia...

 

Mas o tímpano soa, e, num segundo,

À voz do mestre, que à lição convida,

Faz-se em torno o silêncio mais profundo.

 

E a classe inteira pressurosa envida

Num jubiloso afã de esforços ledos,

Mostrar que a luta foi, por fim, vencida.

 

E, depois - o jardim, jogos, folguedos...

Quem estuda e trabalha, então descansa,

Liberto o coração de inúteis medos.

 

E a vista elevam, plena de confiança,

Sem temer do castigo atros escolhos,

Em pós do prêmio, as asas da esperança...

 

Somente o pobre Nuno abaixa os olhos.

Amigos por toda parte                
Trabalhando