Literatura Infantil (1880-1910)

 
O cão e os pássaros                
A volta ao lar

 

 

POUPEMOS.

 

É CLOTILDE a costureira.

Com que tino e ciência ela trabalha!

A agulha corre ligeira,

Tecendo prática esteira

Nas meias de algodão, de malha em malha.

 

Pobrezita é, com certeza.

Mas que asseio das roupas no preparo!

E, em tudo, a graça e a pureza,

Que a alma sente e goza, presa

De um bem-estar delicioso e raro.

 

Ao longe, vê-se a campina

Por entre os vidros da janela estreita;

E a luz, desmaiada e fina,

Do dia, que, almo, declina,

Com nimbos de ouro o seu rostinho enfeita.

 

Trabalha, cantarolando,

Em singela toada, umas cantigas,

Num fio de voz tão brando,

Que a gente vai recordando

Velhos acordes de canções amigas.

 

E, com infinita graça,

Corre a mãozinha, leve como um fuso,

No fio, que se entrelaça,

E a agulha passa e repassa,

Fechando os rombos da velhice e uso.

 

Doura-lhe a face risonha

O reflexo do bem, que ela pratica.

Trabalho não a envergonha,

E, trabalhando, ela sonha

Que o seu labor faz a Mamãe mais rica.

 

É tão bom prestar-se a gente

A todos - auxiliá-los com ternura!

Que gozo puro a alma sente

Num bem-estar, procedente

De nós para uma outra criatura!...

 

E a economia é virtude;

Quem poupa os gastos, a fortuna afaga

E muita gente se ilude

Achando humilhante e rude

A boa fada, que o labor nos paga.

 

- Poupar é um saber profundo,

Dizem os meigos olhos de Clotilde.

Quem dera que todo o mundo

Possuisse o dom fecundo,

Que impele as mãos da costureira humilde!

 

 

O cão e os pássaros                
A volta ao lar