Literatura Infantil (1880-1910)

 
O Pároco                
Segunda Travessura

 

Primeira travessura

Todos gostam afinal,
De ter aves no quintal:
As galinhas, bem nutridas,
Põem ovos, quando cozidas
Ou assadas, no jantar,
São gratas ao paladar;
Servem para encher almofadas
Em cujo macio encosto
A gente dorme com gosto...

Aqui está a viúva Chaves,
Que também gosta de aves,

Galinhas tinha ela três
E um belo galo francês. -
Ora, ao Juca, e ao Chico, um dia
Ocorre uma estripulia.
- Que fazem os dois madraços?
Amarram quatro pedaços
De pão, nas pontas distantes
De dois sólidos barbantes,
E ao vir a noite, ao sol posto,
Deixam tudo isso, disposto

Em cruz, defronte das aves,
No quintal da viúva Chaves.

O galo, rei do quintal,
- Cocorocó - dá sinal:
Depressa, cacarejando,
Vêm as galinhas em bando...

E os quatro, sem reflexão,
Comem as iscas de pão!

É tarde pra refletir...
Puxam... não podem sair,
Coitadinhos, do lugar!

Toca a puxar, a puxar...
Porém, quanto mais trabalham,
Mais penam, mais se atrapalham.

Até que desesperados,
Voam, e ficam pegados
A um galho seco. Que horror!

Perderam as forças e a cor;
Ficam roucos, fazem só,
Quase sem voz: quó...quó...quó

E cada um deles, depressa,
Na agonia que começa,
Põe um ovo ainda ao vento,
E exala o último alento!

Mas a viúva, que dormia,
Ouve os gritos de agonia:

Que pressentimento! Sai...
Chega ao quintal...E diz << Ai!

Ai! Que amargura! que espanto!
Corre dos olhos, meu pranto!
A esperança mais querida,
Mais bela da vida,
Eu vejo, como um bugalho,
Pendente daquele galho! >>

Aflita a pobre senhora
Arranca os cabelos, chora...
E por fim, as cordas corta,
Para que a família morta

Não fique dançando ao vento,
Naquele aborrecimento!
- Foi a primeira dos dois...
Houve outra logo depois:

O Pároco                
Segunda Travessura