Multiletramentos

Os multiletramentos, conceito cunhado pelo Grupo de Nova Londres (GNL ou NLG) em seu manifesto de 1996, é uma perspectiva de letramento que considera a multiplicidade de linguagens (visual, verbal, sonora, espacial…) e a de culturas. Em 1996, os autores fazem referência aos modos linguístico, sonoro, visual, gestual e espacial, considerando-os em relação aos designs. Em 2009, Cope e Kalantzis vão listar o escrito, oral, visual, sonoro, tátil, gestual, emocional e espacial, em termos de representações, sendo a sinestesia tangencialmente inserida no âmbito das multimodalidades. Já em 2012, os mesmos autores consideram a mesma relação (sem mencionar o emocional) em termos de significados (meanings), sendo sinestesia diretamente inserida no âmbito das multimodalidades.

No mundo contemporâneo, os cidadãos circulam por diferentes espaços entre esferas públicas e privadas, profissionais e pessoais. Essa circulação demanda variadas maneiras de interagir, o que impõe uma flexibilidade cultural e de linguagem. Os multiletramentos seriam letramentos para essa sociedade contemporânea, preparando os alunos para transitarem por entre os diversos espaços e situações do mundo globalizado. O multiculturalismo reconhece que a interação social varia culturalmente. As realidades locais e suas interferências por conta da globalização e fluxos de informação se traduzem em uma multiplicidade de espaços sociais, nos quais diferentes identidades e realidades circulam.

Os autores argumentam que essa multiplicidade de culturas afeta três principais domínios: a vida profissional, a vida pública e a vida privada. A primeira se refere às relações trabalhistas e transformações do dito capitalismo acelerado. O segundo faz menção às formas de atuação e participação sociopolíticas e as identidades públicas que construímos e compartilhamos. O terceiro se trata de nossas relações interindividuais e como compreendemos a nós mesmos tendo em vista a diversidade de subculturas. Nesse sentido, os multilteramentos seriam mais adequados para o mundo contemporâneo ao reconhecerem essa variedade de sentidos e identidades, atravessada por diferenças e fragmentações sociais, interacionais e identitárias.

Um conceito central para a compreensão dos multiletramentos e para a Pedagogia dos Multiletramentos é o conceito de design que constituem formas de construção de sentidos.

Ao mesmo tempo que caracterizam os multiletramentos e sustentam que devam ser considerados pela escola, o GNL elabora uma proposta pedagógica assentada em princípios e movimentos pedagógicos, a Pedagogia dos Multiletramentos.


Referências:

THE NEW LONDON GROUP. A pedagogy of multiliteracies: Designing social futures. Harvard educational review, v. 66, n. 1, p. 60-93, 1996.

KALANTZIS, Mary; COPE, Bill. Literacies. Cambridge University Press, 2012.

KALANTZIS, Mary. Elements of a science of education. Australian Educational Researcher, v. 33, n. 2, p. 15, 2006.

COPE, Bill; KALANTZIS, Mary. “Multiliteracies”: New literacies, new learning. Pedagogies: An international journal, v. 4, n. 3, p. 164-195, 2009.

ROJO, Roxane. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In: ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo. (Orgs.) Multiletramentos na Escola. São Paulo: Parábola, 2012.

COPE, Bill; KALANTZIS, Mary. The Things you do to know: an introduction to the pedagogy of multiliteracies. In: COPE, Bill; KALANTZIS, Mary (Orgs.). A pedagogy of multiliteracies: Learning by design. Springer, 2015.


[Primeira formulação: Victor Schlude Ribeiro; contribuições: Jacqueline Barbosa]

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