Fan Vid (videoremix de fã)

Fan Vid (videoremix de fã)

Segundo Moura (2018), o Fan Vid surgiu dentro da cultura de fã como um tipo de produção que usa das técnicas de remix de imagem em movimento. Esse contexto de surgimento fez com que esse gênero se tornasse muito popular em redes sociais como o Youtube e o Twitter, sendo uma forma de os fãs participarem ativamente da comunidade de suas obras preferidas.

Mas seu surgimento data de antes das tecnologias digitais usadas hoje para produzir e compartilhar Fan Vids. Segundo o site Fanlore, os primeiros Fan Vids foram feitos em formato de apresentação de slides, usando técnicas mecânicas, e foram apresentados em convenções de fãs ainda na década de 1970. O formato em slides ainda é produzido atualmente, mas por meio da captura de telas, recuperando a estética das produções mecânicas feitas no século passado, mas usando a tecnologia atual.

Além de Fan Vids em forma de slides, os fãs usavam outras técnicas mecânicas durante a segunda metade do século passado para criar suas produções. Com o surgimento e a popularização do vídeo cassete, cada vez mais membros das comunidades de fãs conseguiam gravar as cenas de suas séries e filmes favoritos. Com isso, eles passaram a editar tais cenas, usando da técnica de recortar e colar para criar novas peças. Mas, mesmo com a limitação tecnológica da época, esses Fan Vids eram tão bem produzidos quanto os da era digital, pois as seleções de amostrar, a organização destas e o acentamento com a trilha sonora eram feitos de maneira eficiente para alcançar o efeito de sentido pretendido.

Com o surgimento da tecnologia digital, ainda na década de 1990, os softwares de edição de vídeo tornaram mais fácil o processo de produzir Fan Vids. Porém, até o início dos anos 2000, o compartilhamento dessas produções ainda estava restrito às convenções de fãs. Foi a partir da popularização da internet e desses mesmo softwares já utilizados que o Vidding (ato de criar um Fan Vid) se popularizou, bem como o compartilhamento das obras se tornou mais expandido, alcançado cada vez mais pessoas.

Os vídeos que são classificados como Fan Vid geralmente servem a dois propósitos: homenagear a obra e seus personagens ou subverter parte do enredo, assumindo um papel transformativo em relação à produção original. No primeiro caso, o Fan Vid é composto de samples que evidenciam a narrativa original ou partes dela e de uma trilha sonora que valorize tal narrativa. Já no segundo caso, os samples são selecionados e organizados de tal forma que muda-se a narrativa, criando uma nova relação para as personagens, com a trilha sonora também sustentando esse efeito de sentido. Essa transformação da narrativa surgiu dentro do nicho LGBTQI+ das comunidades de fãs, pois muitas produções não traziam personagens representativos para esse grupo de pessoas. Assim, surgiram os Fan Vid que mostram ships [1] não Canon, ou seja, casais que não existem no enredo original.

Analisar e compreender as produções de Fan Vid é uma ótima maneira de entender as relações que são estabelecidas dentro das comunidades de fãs. Além disso, essas produções são uma boa amostra de como a seleção e organização de samples determina o discurso proferido pela produção, podendo, inclusive, mudar o enredo de uma obra.

Como exemplo de Fan Vid, sugerimos assistir ao vídeo “Swan Queen – Let Her Go”, disponível no Youtube, no qual foram remixados samples da série ONce Upon a Time para subverter a narrativa que envolve as personagens Emma e Regina, fazendo-as parecer um casal. Além das cenas selecionadas, o vídeo também conta com uma trilha sonora que contribui para a narrativa construída, com a canção “Let her go”.


[1] – Segundo o site fanlore.org, termo “ship” vem da palavra “relationship” que pode ser traduzida como “relacionamento” para o português. Ele surgiu entre os leitores e escritores de fanfics para se referir aos casais que compõem as narrativas, sendo também empregado quando se trata dos casais das obras originais. Dessa forma, “ship” quer dizer “casal”, e “shippar” é o ato de torcer por esse casal. Os “ships” podem ser divididos em dois grupos, os que acontecem nas narrativas originais e os que não são validados por elas, sendo criação apenas dos fãs. Os casais do primeiro grupo são denominados e “canon”, sendo que os que compõem o segundo são rotulados de “não canon” e também podem ser chamados de “cult ship”.


Referências

ROCHA, S. C. Cultura Remix na escola: possibilidades e aprendizagens. Campinas: Unicamp, em andamento.

ALMEIDA, E. M. Anime music video (amv), multi e novos letramentos: o remix na cultura otaku. Campinas: Unicamp, 2018.

Vidding. In: Fanlore. Disponível em: < https://fanlore.org/wiki/Vidding>. Acesso em: 26 nov. 2020.


[Primeira formulação: Suzy da Costa Rocha]