Literatura Infantil (1880-1910)

 
Onde está a Pátria?                
O medo

 

 

RECEIOS.

 

QUE dia negro!... A tempestade ronca

Sobre o modesto lar;

E, chicoteando a penedia bronca,

Zune o vento do mar.

 

Voam gaivotas céleres, em bando,

De outras plagas em pós...

E o mar ulula e geme, inflando, inflando

O seu dorso feroz.

 

Fogem barcas de pesca uma pós uma,

Risca, rápido, o céu,

Um fulgurar de luz, rompendo a bruma.

Do túrbido escarcéu.

 

E na casinha humilde, ai! que temores,

Quantos suspiros vãos!

A mãe esconde o olhar, pleno de dores,

No côncavo das mãos.

 

Voa-lhe ansioso o coração do peito

Buscando, entre o negror

Do mar, a vela do barquinho estreito

Do esposo pescador,

 

A vela branca, que nos outros dias

Aponta e surge além,

Ligeira e mansa, cheia de alegrias,

Mensageira do bem,

 

A pequenina barca, o seu tesouro,

Tão novinha e tão boa!

Que tanto à noite, como ao brilho louro

Do sol, nos mares voa,

 

Donde lhe vem aos lares a abstança,

Que enche os celeiros nus,

E que, leve, nas águas se balança,

Se o pescador conduz...

 

Tenta sair, num desespero fundo,

Entre perigos mil...

Mas os filhinhos vê sós neste mundo

E esconde o olhar febril...

 

Pela janela aberta olha-se um braço

Do mar negro e feroz;

Longe, as gaivotas vão cortando o espaço,

Veloz, veloz, veloz...

 

 

Onde está a Pátria?                
O medo