Literatura Infantil (1880-1910)

 
No mar                
Amigos por toda parte

 

 

CONVIVÊNCIA ÍNTIMA.

 

É AMIZADE, que vem de tempos velhos;

São vizinhos e nunca, em sua vida,

De canários, ou vida de coelhos,

Foi, de um desgosto a nuvem, pressentida.

 

A princípio era um - só um - canário,

Ou, antes, um casal, que, após, viera

A companheira, e o ninho solitário

Foi povoado em toda a primavera.

 

O ninho era no ângulo de um muro

Velho, arruinado, entre lençóis de grama,

E, ali na sombra, como um veio puro,

Do amor, brilhava a imperecível chama.

 

Pertinho havia um coelho, e, de vizinhos,

Foram amigos logo se tornando:

O coelho tinha esposa e mais filhinhos,

Todos de um gênio carinhoso e brando.

 

E entenderam-se logo às maravilhas.

Comiam juntos e, ao frugal repasto,

Uns falavam da terra, e campo, e trilhas;

Outros, do céu amplo, sereno e vasto...

 

Se um caçador, adivinhando a presa,

Vem cauteloso e acerca-se mansinho

nunca os pilha na toca de surpresa:

Previne o assalto a voz do passarinho.

 

De outra vez, se o alçapão traiçoeiro, aberto

Na sombra, as aves, sedutor, chamava,

Atento à história, um bom coelhito esperto,

Logo, o perigo aos pássaros mostrava.

 

Jamais uma disputa, uma querela;

Sempre a confiança mútua nos dois lares;

Uns e  outros leais; vida singela,

E o instinto ou alma a rir nos seus olhares.

 

Auxiliam-se em mútuas diligências;

Previnem-se de sustos e receios;

E vão e vem, as leves confidências,

Em murmúrios sutis ou em gorjeios.

 

 

No mar                
Amigos por toda parte