Literatura Infantil (1880-1910)

 
Avô                
O Relógio

 

 

PRECE.

 

 

REZAR, filhinhas, é sentir-se a gente

Mais perto de Jesus, do céu mais perto.

Quem volve os olhos deste mundo, sente,

O coração, para outro mundo, aberto.

 

E a doce paz, que inspira a crença, avulta;

E cresce pouco a pouco; e infunde, na alma

Dos que rezam, a fé na força oculta,

Que as agonias desta vida acalma.

 

"E Jesus ouve a todos, Mamãezinha?"

- Sim, meu amor, e dá remédio a tudo;

Nem só ouve, mas olha e adivinha

Muito martírio inconsolado e mudo.

 

E em todos verte o bálsamo divino,

Que conforta, e alivia, e dá esperança,

Como o frescor de um veio cristalino,

Em cujo espelho o nosso olhar descansa.

 

Escuta a voz de tudo o que tem vida,

Desde o animal à planta mais obscura,

E, onde pressente incógnita ferida,

Seus olhos pousa com maior ternura.

 

É por isso que a gente em graça ou pena,

Flutuando em gozo, ou se afogando em mágoa,

Eleva, crente, à vastidão serena

Do céu, os mesmos olhos rasos d'água.

 

Para falar a Deus, nos vossos beijos

Meus lábios muita vez perfumo e adoço;

E, ouço em torno de mim santos adejos,

Quando comigo murmurais: "Pai Nosso!"

 

 

Avô                
O Relógio