Coordenação: Mariangela de A. Maximo Dias

O tema da criança e da infância é matéria prima do fazer psicanalítico. Freud assinalou que a rememoração de seus restos e o trabalho de construção que o acompanha constitui passagem obrigatória na travessia do que nos constitui, nos assombra ou ainda do que atesta, de modo singular, momentos que velam e desvelam a existência. O que resta da infância no adulto cumpre muitas voltas numa análise que enquanto experiência de subversão do sujeito do desejo convoca o atemporal do infantil, significante caro à investigação do campo da sexualidade, do sonho e do inconsciente.

As infâncias no plural colocam em apreensão imediata, e talvez, apressada, de que não há apenas uma infância, assim como não há um sujeito universal. Aqui essa pluralidade obedecerá a exploração sugerida por Rosana Khol Bines no seu livro “Infância, palavra de risco” que coloca como pergunta central “para onde nos arrastam as infâncias? E indica: “[…] a infância não coincide com a criança, não é um estado puro e apartado do mundo adulto, mas uma força especulativa acerca de experiências liminares”. O que está em jogo em as infâncias são experiências de passagem e precursoras de trajetos, momento em que algo passa a ser… A força especulativa das infâncias, segundo a autora, procede do que não cessa de nascer, sendo, desse modo, figura de nossa relação com a morte, do que se realiza no terreno da transitoriedade e da indeterminação.

A proposta desse grupo de trabalho implica a volta a um tema que me foi caro: a escuta dos pais dos bebês prematuros em UTI neonatal, tema de pesquisa no doutorado. Naquele momento a realização da escuta da experiência liminar vivenciada por aqueles que cercavam o bebê, ainda sem estar empossado de sua majestade no desejo dos pais, colocava de modo violento o abismo na passagem do não ser ao ser. Nomeada por alguns como campo da clínica da origem, o neonato prematuro constitui uma figura potente do abismo que cerca a entrada no mundo simbólico. A questão se renova nesse momento: para onde nos levam as infâncias? Qual a sua potência?

Datas:  17/03; 14/04; 12/05; 9/06; 11/08;13/10;10/11 Os encontros ocorrerão na segunda sexta-feira do mês

Horário: 10 às 11h30.

Plataforma Zoom

Os interessados podem fazer contato com o coordenador através do e-mail:  mariangelaamd@uol.com.br

Bibliografia:

AGAMBEN, G. Infância e História: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.
ANSERMET, F. Clínica da origem: a criança entre a medicina e a psicanálise. Rio de Janeiro: Editora Contra-Capa, 2003.
BINES, R.K. Infância, palavra de risco. Rio de Janeiro: Numa Editora, 2022.
FREUD, S. ([1918] 1914) História de uma neurose infantil. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. v.17. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1937). Construções em análise. In: Obras incompletas de Sigmund Freud: Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
GAGNEBIN, J.M. Sete aulas sobre Linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1997.
SOLER, C. O que resta da infância. São Paulo: Editora Escuta, 2018.