Menu fechado

Exposição: “Retratos Grotescos & Sublimes”

Por: Augusto Baudelaire

Formado em Letras pela Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá. Atualmente é professor de Inglês e Arte pelo Colégio FEPI.

Aqui, um singelinho apanhado de algumas das pinturas que criei nos últimos anos. Elas oscilam entre experimentações do grotesco e caprichos do sublime. Uma outra diferença notável está na progressão de estudos, esboços rudimentares, para obras mais ambiciosas e, evitando a palavra “completas”: “mais preenchidas”. Algumas carregam data e assinatura. Mas tomei a liberdade, comigo mesmo e com o tempo, de assinar bastante discretamente – atrás das telas.
Os momentos iniciais dessa expressão visual carregam certa sombra das Pinturas Negras de Francisco de Goya: foram feitas com tintas PVA sobre papéis color set com o intuito de profanar os olhos. Nas fotografias, tentei manter pequenos detalhes do vazio impreenchível de cada escuridão, de cada papel. Em momentos ainda mais iniciais: papéis sulfite coloridos com tinta negra – polaroids da improvisação, baratos retratos do que eu alguma vez enxerguei nesse mundo ou sonhei em outro.
Existem muitas barreiras dentro de um artista, ao acaso natural de ser humano ou à sua escolha. No meu caso, quanto aos que eu pude escolher: o medo de gastar dinheiro com materiais e não ter grana pro lanche do intervalo; e escolhi também o medo de mostrar meus quadros a quem não me conhecesse muito bem. Foram sérias as vezes em que precisei me justificar diante de impasses sobre fragilidade emocional e/ou simples profanações do otimismo. Esse segundo medo foi superado com sucesso quando entendi (um pouquinho) melhor os compartimentos mais pessimistas de dentro da minha caixola.
O outro medo persistiu, mesmo quando ganhei um quadro como presente de aniversário e só tive coragem de “usá-lo” muitos meses após a grandiosa, magnífica e importantíssima celebração. E seu uso me foi cruel, não me satisfez de forma alguma.
Com o passar dos meses, trocando o medo pela teimosia, comprei um segundo quadro e algumas cores. Na semana seguinte, um pequeno kit de pincéis para pintar unhas, que destinei a usos inortodoxos. O medo de bagunçar um quadro e me arrepender de não ter comprado um lanche ou um doce foi substituído pela prática de pintar por cima dos erros cometidos. E o quadro inicial foi refeito. E muitos outros.
Existe, claro, um terceiro medo insuperável, não escolhido: o medo de não saber quais são os erros da minha expressão.

Retrato do artista feito por sua mais que amada signora, Júlia Carvalho.
In transit.
Rudimentar. PVA em papel sulfite. Um ser sob uma espera incerta. A fadiga da escuridão
e o sono perturbado. Outro tipo de cansaço.
Malignant King
Rudimentar. PVA em papel sulfite. Sem descrição.
A bad encounter
Rudimentar. PVA em papel sulfite. A zona abissal reserva existências cujo sorriso é
perpétuo. O inconsciente é mais vasto que o mar.
Immense Violence
Rudimentar. PVA em papel sulfite. Sem descrição.
El ingenioso caballero
Rudimentar. PVA em papel sulfite. A imaginação e o heroísmo. A graciosidade da
derrocada de um moinho de vento.
Blind Medusa
Rudimentar. PVA em papel sulfite. O letal, o frágil, o incerto. Eis a natureza do mundo.
The bride (cursed)
PVA em papel cartão. Sem descrição.
The smile (cursed)
PVA em papel color set. Uma visagem sorridente e alucinante da maledicência.
A very sympathetic Nosferatu
PVA em papel cartão. Uma versão bem-humorada do vampiro Nosferatu.
“My name is Carnival” (to Jackson C. Frank)
PVA em papel color set. Um passeio por um parque de diversões. Minha homenagem a
Jackson C. Frank e seus enigmas em forma de música.
Missing Alice
PVA em papel color set. Sem descrição.
Smoke gets in your whys
PVA em papel color set. Sem descrição.
Turquoise Hexagon Sun
PVA em papel color set. Outra homenagem a sons. O sol turquesa hexagonal explora
seu firmamento sombrio em alguma localidade inabitada. Seus raios são sonoros
A connoisseur of monstrosities
PVA em papel color set. Sem descrição.
“I have my doubts”
PVA em papel color set. “O silêncio desses espaços infinitos me aterroriza” – Pascal.
Sad and Wounded
PVA em papel color set. Sem descrição.
Altivez Noturna (ou “Vigília”)
PVA sobre papel color set. Sem descrição.
Crer em quê?
PVA em papel color set. Sem descrição.
Harmony in Oblivion
PVA em papel color set. Sem descrição.
Portrait of an observation
PVA em papel color set. Sem descrição.
Morgana
PVA em papel color set. Modos misteriosos de se passar pelo mundo.
“So pale it shone in the night”
PVA em papel color set. Sem descrição.
Misophonic Self-Realization
PVA em papel color set. Catarse atrás de catarse atrás de catarse atrás de catarse atrás
de catarse.
A somnambulist
PVA em papel color set. Caligari e seus mirabolantes planos insanos.
Sem título
PVA em papel color set. Uma mulher anônima de face plácida. L’inconnue de la Lethe.
Friendly yellow eyes
PVA em papel color set. Sem descrição.
Sem título
PVA em papel color set. Sem descrição.
Portrait of a fragment
PVA em papel color set. Sem descrição.
A plan for my midsummer eternity
Guache em papel color set. Sem descrição.
Sem título
PVA em papel color set. Sem descrição.
We laugh, scream, and demolish
PVA em papel color set. Sem descrição
Um camaradinha estiloso
PVA em papel color set. Uma pintura divertida de um gatinho estiloso.
Homage to Francis Bacon.
PVA em papel color set. Sem descrição.
Sem Título
PVA em papel color set. Sem descrição.
Untitled IV
PVA em tela. Sem descrição.
40cm x 30cm
Untitled III
PVA em tela. Sem descrição
24cm x 24cm
“Autômato”
PVA em tela. Minha versão de um quadro de Jamie Wyeth.
40cm x 30cm
“The Crimson Cabaret” (to Thomas Ligotti)
PVA em tela. Minha ode à literatura de Thomas Ligotti.
20cm x 20cm
Lunacy
PVA em tela. O primeiro quadro que ganhei. As marcas de ínúmeros “erros” são
perceptíveis na textura. Um totem.
30cm x 18cm
“Camaraderie at arms lenght”
PVA em tela. Sem descrição.
24cm x 24cm
Untitled I
Tinta PVA em papel color set. Sem descrição.
Untitled II
Tinta PVA em tela. Sem descrição.
35cm x 27cm
Loss
Tinta PVA em tela. Sem descrição.
40cm x 30cm
“A slow boat to China”
Tinta PVA em tela. Sem descrição.
22cm x 16cm
To watch my constellations dying, to be held within your heavenly arms, to watch the
humankind come to an end on the TV (ou “Nights that won’t happen”)
Tinta PVA em tela. Homenagem a David Berman..
30cm x 30cm
“As long as I can hold my breath”
Tinta PVA em tela. Homenagem a Harold Budd.
40cm x 30cm
J E S T
Tinta PVA em tela. Sem descrição.
40cm x 30cm
Minha fugaz cornucópia
Tinta PVA em tela. Sem descrição.
24cm x 24cm
Paisagem abstrata II
Tinta PVA em tela. Sem descrição.
30cm x 20cm
Paisagem abstrata
Tinta PVA em tela. Sem descrição.
40cm x 30cm
Uma estadia no Inverno (ou “L’enfant perdu”)
Tinta PVA em tela. Homenagem a Harold Budd.
50cm x 40cm

Quando alguém projeta sua imaginação em criações artísticas, registra o inacessível e intangível. Que a pintura seja um bom assunto quando a melancolia se sobrepor sobre nosso frágil pensamento.

Incluo aqui uma poesia que escrevi em inglês

A monster I’m proud to love

Augusto Baudelaire

He felt lost among several purple tree trunks

A red velvet passerine whose voice was

No longer part of the mystical dawn chorus,

Bursting and tearing the very tear of dusk.

The unfortunate redstart of many days,

He sang painfully, randomly on his golden hours

And other birds creepily lost their own routines:

The announcement of black skies for skylarks.

A friend of owls, an enemy of daylight,

The only angel left behind on this cursed land.

Not a surprise in his eyes, not a moment overspent

And his glances penetrate simplicity in its heart.

I wonder where he sleeps, and where I’ll wake him up.

Um monstro que amo com orgulho

Perdido entre montes de galhos vermelhos,

O suave passarinho cuja voz já não

Compunha o místico coral solar,

Penetrante e corrosivo ao mero tecido do céu.

Seu vermelho tom infortunado pelas manhãs,

Seu canto doloroso, caótico, quando o sol se põe.

Outros pássaros se perdem tenebrosamente em seu vocal:

Presságio das sombras aos celestes senhores.

Companheiro dos noturnos, avesso à luz, ao dia;

O único anjo nessas milhas carnicentas de lamaçal.

Nenhuma surpresa em seus olhos, nunca perde tempo,

A simplicidade é perfurada por seu olhar cordialmente.

Me pergunto onde pernoitou; e onde devo amanhecê-lo.

Contato do artista:
E-mail: blue.delaire@gmail.com
Instagram: @borntobeblue

9 Comentários

  1. ana clara

    Quanto talento, gus! Fiquei com o coração quentinho com tanta sensiblidade. O poema é lindo demais, não me canso de reler!!!! Parabéns <3333

  2. Taís

    Eu amei cada parte e detalhe!! Admiro você demais e toda sua arte é uma inspiração pra mim. Parabéns Gus, continue fazendo arte e tocando cada um do seu jeitinho 🙂

  3. Ana Elisa

    Nossa, amei! Me tocou muito, fiquei um tempo olhando as pinturas por um tempo enquanto ia sentindo tantas coisas! Parabéns!

Comentários estão fechados.