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Resto

QUINTAL

Substantivo masculino

  1.  pequena quinta (‘propriedade’).
  2. terreno, ger. com jardim ou horta, atrás de uma casa de moradia ou junto a ela.
  3. BRASILEIRISMO•BRASIL pátio, ger. cimentado, de habitação.

Origem ETIM segundo Leite de Vasconcelos, do lat. vulg. *quintanale

Era ruína mas por ato voluntário, embora tardio, agora são escombros. Tudo veio abaixo e a poeira dispersa das lembranças, que pairava insistentemente, ficou corporal, palpável e irrespirável. A escada de caquinhos vermelhos, ela ainda permanece, levando ao famoso quarto da garagem, hoje destelhado. O céu está lá, a luz entrando sobre o chão de tacos apodrecidos. Mas o tanque e o banheirinho da família, que era um cubículo ao lado do tanque, foram abaixo, escombros.

Na casa da minha infância não sabia de lavanderia. Era tanque.

No tanque estava a torneira que condensa a lembrança traumática da morte dos frangos pelas mãos da avó. No ato flagrado do crime, uma perspectiva sombria. Quantos antes não teriam sido os pescoços cortados? Certamente inumeráveis. Então era assim? A risada debochada da avó mistura-se ao cheiro insuportável das penas escaldadas. Inesquecível. Nesse instante, a raiva empedrara numa frustação inelutável. In-superável. In-se-pa-rá-vel.

Mas então, à frente do tanque que abrigou galinheiros transitórios, as plantas, os antúrios, as samambaias, tudo muito cuidado, de um verde magnífico, fresco. E ao lado a garagem onde ao fundo havia o sotãozinho de minhas brincadeiras. Isso tudo reconstruo novamente, pedra por pedra, despesando.

Muitas caixas amontoadas, coisas guardadas não se sabe de quem, quebráveis, frágeis, e a escada de madeira com corrimão que rangia quando subia: a escada dava acesso ao cômodo de posse infantil, esse território conquistado, pelo que me recordo, sem batalha. Um adulto não ficava em pé ali, no sotãozinho. Essa era a discrepância. Se era meu, se era lá que brincava de casinha, se era minha “casa na árvore”, se eu cabia mas o adulto não, se brincava tão bem sozinha, convidava aflita e perseverante a avó, ou a mãe, o pai ou sei lá quem para vir em visita, um chazinho, uma comidinha de brincadeira!

Mas às vezes comigo no quintal tinha dois amigos, dois irmãos que moravam ao lado. Não lembro de que brincávamos. Lembro de uma excitação e de me esconder em cantos com o maior, de reconhecer o sexo, de me espantar.

Telma Domingues da Silva