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PEQUENA COLETÂNEA DE POESIA QUEER ESTADUNIDENSE

Tradução: ju guedes & Ana Elisa Volpato Ortolano

DISFORIA

É verdade que eu estou im-
paciente sob aflição. E?
A maior parte do que a morte pode

fazer é difícil de carregar. E quanto a
gênero eu não consigo explicar
para além de um poema: foi

um instinto, eu o
segui. Uma música. Um sino. Eu vi
rastros de veados na neve. Pequenos

corações divididos me chamavam
através do gramado. Meu corpo
me resistiu, me apreciando.

É assim que você aguenta esse florescer.
Broto, eu estou me curvando às eclosões agora.

Oliver Baez Bendorf.


QUERER PODIA ME MATAR

para Dominique

Eu sei disso

de olhar

fachadas de lojas

o paladar dançando vogue

aceso pela maneira como

tesouro brilha

quando eu imagino

pressionando sua opulência

em tua mão

eu quero te dar

um sofá cobre aveludado

todos os dentes de teus inimigos

enfiados como pérolas

uma vinícola de cannabis

e passagens de avião

para cada ilha

da terra

mas meus bolsos

estão cheios só

de fiapos e amor

toca esses deuses inanimados

até minhas pálpebras

quando tu me beijas

lençol de couro

seda de pele de lagarto

laço de seda ônix

folhas douradas de mármore

cristal de leopardo

leão de sândalo

salto agulha de pérolas

unhas matte e pelúcia

lábios brilhantes

na minha saliva de bebê dos anos 90

despeja o glitter

na minha pele nua

eu quero uma vida gloriosa

nós na encruzilhada

de uma rede

nos escandalizando pelo romance

a vontade do pássaro-jardineiro

de renunciar descanso e comida

para poder se embelezar

e antecipar amenidade

para seu amor cantante

me chame de pássaro frágil

que protege altares

santuários para o toque

como brilham por ti

enlaça tuas asas

em volta de meus ombros

me promete que

se eu me afogar

em sobras feitas do querer

que o vestido em que eu descer

será fabuloso.

Xandria Philips.


EXPRESSANDO MEUS SENTIMENTOS PARA MEU FUTURO PAR MARIDO-ESPOSA (OU, RITUAL EM QUE GÊNERO)

//

Quando meu par me pede um auto-retrato, eu lhe digo:

Recém terminado o ensino médio
eu trabalhava como uma estátua

da liberdade. Eu vestia veludo azul
e dançava ao lado de uma marginal

da estrada 6. Mascote
para a liberdade – eu fazia propaganda

para uma empresa de cobranças. Eu tinha me
assumido naquele ano.

Transeuntes desciam
suas janelas,

jogavam cigarros acesos, lixo, moedas.
Eu sempre fui a favor de retaliação.

Então eu joguei a tocha.

\\

//

Meu par e eu investigamos a árvore do
quintal com titica roxa

até descobrirmos que 
ela é uma verdadeira princesa.

Sangue real verde com raízes
do tamanho de corpos.

Esta princesa é invasiva.
Ela cobra-rasteja embaixo

da nossa casa e suspende
o que achávamos que sabíamos

de nós. E deus,
não é terrível por gênero 

até em uma árvore. Não é terrível
que ela nos lembre dos

nomes que damos às falhas
dos nossos corpos. Uma flor

côncava como uma buceta
parece, agora, como uma traição que

nós nunca perdoaremos.
Mas logo

\\

Eu sonho que meu par me deixa
por oito anos na guarda costeira,

um kraken belisca a superfície
desse pesadelo azul escuro.

Divida esse sonho na metade e ele se torna
quatro anos e eu ainda não sei

nadar. Nada disso é real.
Mas deus, meu par ama a água,

o bastante, até, para eu entrar.

\\

Quando meu par transforma suas mãos
em venezianas, elas suavizam

minha testa envelhecida com esse novo
tipo de sombra, elas colocam minha pele

em perfeita ordem com sua pele.

Eu falo para meu par que serei gentil
com as janelas

somente quando gostar do que vejo
através delas. Elas entendem

que esse mundo é inferno
tão torto que não há reparo.

Mas dentro


de nós em nós
há uma paz.

Dentro de nós em nós
nós nem lembramos de gênero – o sentido
de a ou dela. Ela se perdeu


no espaço. Ele nem era
tão bom para começo de conversa.

Nós até perdemos o sentido de menina.

Se soubéssemos onde foi deixado,
nós ainda não o resgataríamos.

\\

//

Hoje eu tenho a idade
de um arsenal

de cartas.

Entre as pernas de meu par
Eu falo todo o 

alfabeto. Meu par me para 

quando estou perto
dos pontos certos.

No fim do dia
tudo que temos é esse ritual

de amor, e do que, eu acho,
será suficiente

para viver para sempre.

\\

Kayleb Rae Candrilli.